Deixámos Cusco e partimos de autocarro nocturno até Arequipa.
Nunca tínhamos andando num autocarro tão confortável, elegante e com uma tripulação tão preocupada com a nossa segurança. Apesar dos preços serem um pouco acima daquilo que outras companhia praticam aconselhamos vivamente as viagens através da Cruz del Sur. Foram 10h de viagem e por 135 soles, atravessámos os Andes.
Claro que nada se compara a uma bela cama, mas os assentos reclinados permitem um belo descanso noturno, poupando-se assim bastante tempo.
Chegámos a Arequipa por volta das 6:30 da manhã. O céu estava nublado, mas o ar abafado. Estamos na ponta norte do deserto do Atacama, e, apesar da cidade de Arequipa se situar a 2 mil metros de altitude, não se sente o frio a que nos habituaram as terras andinas.
A pouco e pouco as nuvens vão-se dissipando, deixando entrever o vulcão Misti, o eterno guardião da cidade branca.
Pousamos as mochilas no hotel, tomámos um banho retemperador e metemo-nos pelas ruas alinhadas desta cidade. Tratámos dos próximos dias, organizámos-nos um pouco: fomos à lavandaria, descobrimos que dentro de 2 semanas era feriado no Chile e marcámos o tour pelo desfiladeiro de Colca.
Depois fomos andando pela cidade. Juntámos-nos ao City Walking Tour de Arequipa e durante algumas horas percorremos a cidade, património da humanidade e conhecida como cidade branca, pelas suas construções, mas também por ter sido fundada por europeus que mantinham uma população de pele mais clara, hierarquizada em função do seu estatuto social.
No ano de 2000, o Centro Histórico da Cidade de Arequipa foi inscrito na lista de cidades Património Mundial, devido à sua arquitetura. Grande parte dos edifícios são construídos por uma espécie de rocha vulcânica de cor branca, designada de “sillar”.



Esta cidade é uma espécie de oásis, se comparada com as restante cidades peruanas. Nota-se o ser ar clássico mas cosmopolita. Ao mesmo tempo é uma das cidades mais antigas do Peru, tendo sido fundada no dia 15 de Agosto de 1543 pelo explorador espanhol Francisco Pizarro, no local de uma antiga cidade asteca.
Vamos parando nas muitas “casonas” que enchem a cidade, resquícios do ouro que mandou por estas bandas, resquícios dos tempos áureos coloniais.
Passamos por uma cooperativa, Aqui há lamas, vicunãs e alpacas. Relembramos os usos da sua carne e, sobretudo, da lã que as mulheres pacientemente vão trabalhando.
Já agora, conta a tradição que o inca Mayta Cápac e os seus súbditos ao chegar ao Valle del Chili, encantados com a beleza da paisagem e suavidade do clima quiseram assentar o acampamento ali. Foram tantos os pedidos que o chefe inca terá dito “Ari qhipay” (em quechua: “Sim, fiquemos”) e assim terá nascido o nome Arequipa.
Jantamos num restaurante vegetariano, animado por uma viajante e cantante argentina. Havemos de voltar ao hotel e voltar a fazer as malas porque o próximo dia promete começar cedo e terminar bem tarde. O segundo maior desfiladeiro do mundo espera por nós.


