Há lugares que parecem tirados de livro, desses livros que nos contam histórias de encantar, onde há fadas, druídas e seres que já não habitam o imaginário dos tempos modernos. Mas ainda há, há Castro Laboreiro.
A mais de 1000 m de altitude, nas serranias do Alto Minho, Castro Laboreiro é um dos lugares mais autênticos e bonitos de Portugal, com tradições e características que o fazem único no mundo. Bem, mas afinal não estamos no “planalto mágico”?



Castro Laboreiro ficou-nos no coração quando por cá passámos em 2007 e as razões foram muitas. Na altura ainda trazíamos ao peito uma velhinha máquina fotográfica que fazia fotos com 1 ou 2 megapíxeis. De Opel Corsa, que muitos quilómetros fez, calcorreamos estas serras durante uma semana. De lá para cá muita coisa mudou: o carro é novo, a máquina tem agora dezenas de megapíxeis e já somos três. Mas Castro Laboreiro permanece quase igual. Sim, há mais hotéis, melhores infraestruturas, mais empresas a animar a região e mais gente. Mas a sua naturalidade, o modo de vida das suas gentes, das tradições, essas continuam lá.



Regressámos a Castro Laboreiro, a propósito do encontro de natureza “Pegada Zero”, promovido pelo Município de Melgaço. Apanhámos um daqueles dias de inverno em pleno Junho, mas afinal, com dizem as gentes daqui, na montanha não somos nós que mandamos. Quando muito mandam os castrejos…
Castro Laboreiro situa-se a mais de 1000 metros de altitude, bem escondido na Serra da Peneda. A vila de Castro Laboreiro tem imensos lugares que hoje mais não são do que quintas isoladas, reminiscências do que foram outrora, já sem gentes e ainda com alma. É quase impossível imaginar as agruras de quem aqui vive, se adaptou à montanha e com ela vive. Aqui manda ela, somos nós que temos de nos adaptar à sua personalidade e de “aturar” os seus humores.



A resiliência destas gentes, a sua estrutura e capacidade de adaptação criaram uma cultura única, neste planalto mágico, de que as “brandas” e “inverneiras” gostávamos de destacar. A população vivia essencialmente da agricultura e da pastorícia levando à criação de costumes que facilitassem esta tarefa e tendo em conta as baixas temperaturas que se faziam sentir no inverno, “a população passa na branda a maior parte da Primavera, o Verão, o Outono; em Dezembro começa a baixar para a inverneira (para em baixo), onde toda a gente deve estar na noite de Natal. É verdadeira migração global, que se realiza a pé e em carro de bois, transportando-se para baixo gados, criação, utensílios, roupas e até o gato atado com um cordel a um fuelro. As casas da branda ficam fechadas e desertas enquanto duram as frialdades e tempestades de Inverno. Em Março ou Abril, isto é, pela Páscoa, sobem para a branda (para em riba), donde descem, para trabalhar a terra ou colher o renovo, por um dia, voltando a dormir à branda“, escreve Orlando Ribeiro.
Que visitar e fazer em Castro Laboreiro?
uma espécie de roteiro por uma das aldeias mais genuínas de Portugal
Igreja Matriz e Pelourinho
A nossa visita por Castro Laboreiro começa, como não podia deixar de ser, no centro da Vila. Aqui ergue-se o Pelourinho do Séx. XVI, que em 1860 foi desmontado os seus elementos dispersos por várias casas da vila. Só na década de ’80 se recuperam algumas peças e se procede à reconstrução.



Antes de abandonarmos o centro da vila de Castro Laboreiro fazemos uma visita demorada à pré-românica Igreja Matriz, dedicada à Nossa Senhora da Visitação.
Núcleo Museológico de Castro Laboreiro
A vida em Castro Laboreiro pode ser melhor entendida com uma incursão ao Núcleo Museológico de Castro Laboreiro. Este é o lugar privilegiado para se conhecer a cultura Castreja da região, a paisagem e as vivências locais. As Brandas e Inverneiras, um dos sistemas de ocupação do território mais interessantes do nosso país, merecem destaque.



Para terminar, visitamos a casa anexa, um edifício tipicamente castrejo onde podemos ter uma ideia do dia-a-dia de uma habitação regional na segunda metade do século XX.



Ponte Velha de Castro Laboreiro e Cascatas
Ao fundo da vila, acompanhando declive do terreno, a água do Rio Laboreiro precipita-se por entre as fragas criando diversas cascatas e poços profundos de águas límpidas.



Do lado esquerdo da Ponte pode descer-se para se ter uma perspectiva mais aproximada das cascatas. Contudo, em conversa com um pescador que por ali tentava a sua sorte, disse-nos que as melhores vistas são do lado direito da ponte, através de um caminho que sai da zona do Museu.



A ponte velha de Castro Laboreiro, construídas em alvenaria de granito, é apenas uma sombra do que foi, testemunho das agruras do tempo, que, passe o que passe, ainda não conseguiu apagar.



Castelo de Castro Laboreiro
Antes de abandonarmos a vila em direção à Assureira, ainda há uma subida para fazer, uma subida que nos leva a um dos ex-libris de Castro Laboreiro, o seu altaneiro castelo. A subida ao Castelo de Castro Laboreiro mostra-nos uma paisagem singular, vales escarpados com fundos verdejantes adornados com as cascatas dos seus rios… são 800 metros sempre a subir, mas asseguramos que valem bem pena. As vistas vão seguramente fazer esquecer o esforço empreendido. Conquistada aos mouros no séc. XII, da fortaleza ainda restam vestígios da torre de menagem e da antiga cisterna.
Nota: como o Simão ia tranquilamente a dormir no banco de trás, desta vez não subimos ao alto do Castelo. Ficam as fotos de quando por aqui andámos em 2007.



Ponte Nova ou Ponte da Cava da Velha
Saímos de Castro Laboreiro. Pelo caminho, a serrania continua a presentear-nos com paisagens fascinantes. Entre estradas estreitas e bosques densos, seguimos em direção à Ameijoeira, onde entraremos em território espanhol. Há uns dias atrás atravessou-se à nossa frente uma ninhada de javalis, vamos lá ver se temos a mesma sorte. Enquanto o Simão continua a dormir tranquilamente no banco de trás, paramos o carro num largo perto da Ponte da Assureira e do Moinho. Daqui, o caminho é curto até à Ponte da Cava Velha.
Em conjunto com Dorna e Assureira, a Ponte da Cava da Velha é uma das três pontes que falaremos de seguida. É uma ponte que nos deixa de queixo caído com tamanha engenharia. Apesar de ser uma das mais antigas da região, também é chamada de Ponte Nova e é composta por dois arcos de volta perfeita e de largura desigual entre si. Está inserida na antiga via romana que ligava Portela do Homem a Laboreiro, contudo não é uma construção dessa época, mas sim da época moderna.



Ponte da Assureira
Outra das pontes, não tão imponente, mas que merece destaque é a Ponte da Assureira. Esta ponte foi construída na época medieval, mas substituiu uma outra anterior romana, de que reaproveitou materiais.



Ponte Romana da Dorna
Por fim, e já mais abaixo, fazemos uma curta paragem na Ponte da Dorna, erguida sobre o Rio Dorna. Dos artigos que lemos sobre esta ponte, ao que parece, a posição commumente aceite é de que não se pode afirmar peremptoriamente qual a sua época de construção.É bem provável que também esta tenha sido inicialmente construída na época romana, sucedendo-lhe uma intervenção de consolidação estrutural na baixa Idade Média.



Num piscar de olhos, saímos de Portugal, pela fronteira da Ameijoeira e entramos na Galiza. O objectivo era regressar à Guarda, mas o tempo parece estar de feição e amanhã é feriado, porque não uma paragem em Pitões da Júnias? Que saudades… é para lá que vamos de seguida.
Que visitar perto de Castro Laboreiro?
Se vier até Castro Laboreiro, além de todo o Parque Nacional Peneda-Gerês, que com certeza estará na sua lista, saiba que poderá dar um salto até à sede do concelho, a vila de Melgaço, e vai, de certeza, ficar surpreendido com tudo o que tem para oferecer. Desde a gastronomia aos vinhos alvarinho, Melgaço tem-se afirmado no últimos anos como um dos destinos de natureza mais radicais do país, e tudo muito family friendly. Não acredita? Ora veja:
Cevide, aqui começa Portugal | Melgaço
Entre bons alvarinhos na Quinta de Soalheiro | Melgaço
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Onde dormir em Castro Laboreiro
- Hotel Castrum Villae – Da última vez que passámos por Castro laboreiro, pernoitámos no Hotel Castrum Villae, um hotel moderno, mas muito acolhedor, típico das zonas de montanha. Sem dúvida uma das melhores opções.
- Bungalows da Peneda – também já pernoitamos nos famosos Bungalows da Peneda, em Lamas de Mouro. Os Bungalows da Peneda estão localizados numa área natural, rodeada de floresta, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês. Reservar com antecedência, esgotam com facilidade.


