Carreira da Índia
Crónicas de uma aventura pela Índia, contada a dois, por Sérgio Lopes e Sandra Saraiva
Na Índia, não temos que nos preocupar em encontrar um riquexó, um guia ou um táxi, quando precisarmos deles, eles lá estarão.
Quando saímos da estação de metro, chovia copiosamente. Apesar de estarmos no final da monção, esta ainda aparecia esporadicamente, mas com chuvas diluvianas. Enquanto olhávamos em redor e esperávamos que o tempo amainasse, logo se abeirou um condutor de riquexó oferecendo os seus serviços.
Às vezes “negociar” o preço adequado pode ser extenuante. Temos noção que apesar das árduas negociações estamos sempre em desvantagem e a pagar ligeiramente mais do que pagaria um Indiano. Mas joga a nosso favor o facto de ainda estarmos no início da viagem e não termos muita noção do real preço das viagens.
Como continuava a chover, lá acordámos pagar 100 rupias, o equivalente a 1,5€, e o simpático Sikh, de turbante branco imaculado, levou-nos numa volta pela zona de Central Secretariat, onde se erguem os principais edifícios governamentais.



Ao mesmo tempo que conduz entre a chuva e o trânsito caótico, vai fazendo de guia e elucida-nos sobre os principais pontos por onde passamos. Quando lhe dizemos que depois de Nova Deli rumaremos para norte, para Amritsar, cidade onde se localiza o principal templo Sikh, abandona a tentativa de nos levar, a troco de mais umas rupias, a Gurdwara Bangla Sahib.
A dissipação do negrume que cobria a cidade e as tréguas da chuva deram lugar a um sol difuso, mas abrasador.
Combinámos deixar-nos perto do túmulo de Humayun, que distava a uns 10 minutos da zona de Secretariat. Claro que antes, contra a nossa vontade, ainda tivemos de visitar uma loja de bugigangas e arte indiana, onde presumivelmente o senhor teria uma comissão. Saímos sem comprar nada…



Numa cidade com 18 milhões de pessoas e 60 mil riquexós, tudo pode acontecer. Ao virar da esquina tanto podemos encontrar um edifício da época colonial britânica, como um túmulo de algum ido rei mogol. É tão fácil encontrar um templo Sikh ou Hindu, como encontrar uma mesquita.
O mausoléu onde se encontra sepultado Humayun, um dos mais prestigiados imperadores mogóis, faz lembrar o Taj Mahal e diz-se que foi aqui que o arquiteto dessa maravilha encontrou a inspiração.
De formas elegantes e arredondadas, o mausoléu, mandado construir por Hamida Banu Begum, a primeira viúva de Humayun, é simetricamente perfeito. O avermelhado da pedra contrasta com o verde luxuriante dos jardins Char Bagh, num clássico estilo persa. Nos jardins predominam os canais de água, sendo os mesmos separados simetricamente por quatro canais principais, representando os quatro rios do jannat, o paraíso para os muçulmanos.
Depois de derrotado por um dos irmãos e obrigado a retirar-se para o atual território do Irão, diz a lenda que Humayun, como forma de recompensar os seus seguidores, e tendo pouco para repartir, pegou numa planta de almíscar e dividiu-a entre os seus homens. Assim, o nome do príncipe havia de se espalhar pelos quatro cantos do mundo, como o aroma intenso do almíscar.
Em 1947, durante a divisão da Índia, este espaço foi transformado num enorme campo de refugiados para muçulmanos, na sua fuga para o recém criado Paquistão. Em 1993, a UNESCO, reconhecendo a singular importância deste edifício, declara-o Património Mundial.
Depois de uma passagem rápida pelo Templo de Lotus – ícone da fé ba’ai -, um edifício modernista que dizem atrair mais visitantes que o Taj Mahal, pela primeira vez em muitos anos, comemos um hamburger no McDonald’s. Não se espantem! Sim, é que aqui o Mac tem hamburgers vegetarianos, deve ser caso único no mundo.
Na Índia há de tudo, até McDonald’s vegetariano…
Já com a Inês por perto, deambulámos por Lodi Garden. A Índia ainda é um país onde uma camada substancial da população vive abaixo do limiar da pobreza. Contudo, é também aqui onde o fosso entre os mais ricos e os mais pobres mais se faz notar. Enquanto uns travam uma luta diária para se alimentarem, outros gastam uma parte substancial do dia a queimar as calorias que ingerem a mais. Por isso, foi com espanto que assistimos ao atropelo com que dezenas de pessoas corriam pelos exíguos passeios que circundavam os jardins. Sinais da modernidade.
O Gullu juntou-se a nós para o jantar em INA Market. Além de muitas barraquinhas com especiarias e artesanato de toda a Índia, INA Market é o local perfeito para quem quer experimentar verdadeira comida indiana proveniente dos quatro cantos do país. Subsidiados pelo Governo, dezenas de pequenos restaurantes servem iguarias, cujos nomes ainda nos eram impronunciáveis.
Comida indiana – Momos (à esquerda); palak paneer, dal e naan (à direita)
Entre uns deliciosos momos, espécie de dumpling, originário da zona dos Himalaias e uma cerveja de frutas, redemo-nos ao palak paneer, uma mistura de espinafres com o famoso queijo indiano. Ficámos completamente adictos. Descobrimos ainda que no sul se come “Pao”, palavra com que os portugueses enriqueceram o vocabulário e a gastronomia indiana.
Não é fácil conseguir um cartão para telemóvel na Índia, devido a recentes atentados terroristas que foram alegadamente levados a cabo com recurso a redes móveis, as autoridades exigem um documento de identificação e são praticamente vedados a estrangeiros, claro que com um amigo indiano e alguma boa vontade, aqui tudo tem solução.
Acompanhem os nosso passos em:
[…] 3 – Deambulando por Nova Deli […]
A fabulosa aventura das índias! Regozijar-me-ia vê-los correr aos atropelos, grande divertimento sentiria transportar-me nessas maquinetas rodoviárias, maravilhado ficaria diante essas suntuosas criações humanas…
Helder Macedo, as maquinetas verdes dão um ar especial a esta gigantesca cidade que para nós foi a porta de entrada na Índia….
Abraço