Enquanto subo o estradão que irrompe montanha acima, reparo num grupo de cabras que se alimenta da vegetação rasteira, principalmente urze, que abunda por estas bandas. Ao longe, acompanha-me a silhueta desses monstros de pás ao vento que, agora, inundam as montanhas de norte a sul do país. Dizem que é uma espécie de “revolução verde”…
Aprecio este contraste maravilhoso. As cabras, imunes ao passar do tempo, comem da mesma maneira aquilo que sempre comeram. A vida pachorrenta parece não ter mudado para elas e até para o seu pastor, quem sabe?!
Infelizmente, a montanha já não é a mesma, está menos verde, mais escura, mais triste, mais queimada… flagelo!
Regresso ao estradão e à nuvem poeirenta que paira no ar. Sigo os trilhos de Camilo Castelo Branco, saio de Vilarinho de Samardã e procuro o fojo do lobo que ele tão bem descreve em Novelas do Minho. Não escondo o encanto de visitar estes sítios, não só pela magia que emanam, pela lembrança que guardam, mas acima de tudo por transportarem a memória de um povo, que outrora viveu assombrado pela “penumbra” do Lobo.
Sabias que Camilo Castelo Branco nasceu em Vila Real? Contamos tudo aqui:
Este fojo é diferente de todos os outros que visitei até agora. É circular, não tem entrada nem poço ao fundo. Consiste num muro de forma tosca aproveitando o declive do terreno, com cerca de 2 metros de altitude e ligeiramente inclinado para o centro. O malfadado uma vez dentro, tornaria inglória a árdua tarefa de se libertar. Sentado à beira da pia que albergava a bebida da cabra que enfrentaria a morte nas garras do lobo, dou-me conta da crueldade do homem e na sua estranha relação com os lobos. Sempre foram temidos, odiados, caçados, perseguidos, envenenados… incompreendidos.
O homem levou ao estremo este ódio ao ponto de quase extinguir toda a população de lobos que habitavam as altas montanhas em Portugal. Hoje, a tarefa é árdua e numa relação amor/ódio é necessário preservar uma espécie endógena, aquela que mais vezes foi o “mau da fita” nas nossas histórias de meninos, aquela que nos fazia tiritar de medo quando, sozinhos na cama, olhávamos a noite encantada pela lua cheia.



Fojo do Lobo de Vilarinho de Samardã – Vila Real
Estacionamento: N 41º 23.967 W 007º 42.273
Fojo do Lobo: N 41° 23.450 W 007° 43.172 map it
Nota: sugiro que deixe o carro no ponto indicado como estacionamento e faça o caminho a pé, através do estradão de terra batida que nos leva ao Fojo do Lobo. São cerca de 3 km, ida e volta.