Sinto um cheiro diferente percorrendo o autocarro onde me encontro. Não é de todo estranho! Reminiscências fugazes passeiam veloz à minha volta.
Recordo tempos de outrora… Lembro o Volvo antigo, gigante, de um vermelho pálido, que rasgou incansável essas estradas de alcatrão gasto. Portugal de lés-a-lés. Quando a sorte do calendário assim permitia, folgava às aulas, prometia ao meu pai mais empenho nas lições, a troco de me deixar embarcar nessas aventuras nocturnas.
O cheiro da liteira do velho Volvo, veio-me agora à memória! Onde estarás tu depois desse destino trágico?
Rumo agora ao interior da China, numa mais que improvável viagem de 14 horas de autocarro! Deitado numa cama quase a tocar o tecto, o velho “bus” dá início à sua marcha, lenta, aos solavancos, mas consistente…
Rápidas paragens em “amontoados” de urina e outras coisas mais, disfarçados de casas-de-banho, são o suficiente para perder a vontade de sair do autocarro nas paragens seguintes!
As montanhas pontiagudas, bem características da paisagem das margens do rio Li, aparecem sorrateiras envoltas num manto de névoa esbranquiçada… encantador. Um belo amanhecer!



Gulin merece uma paragem rápida, o suficiente para encontrar um guia e alguém que venda bilhetes de barco até Yangshuo, o verdadeiro destino. Se geneticamente os portugueses estão predispostos para o comummente chamado “desenrascanso”, viver na China e viajar pela Ásia, aguça o engenho e faz despertar um outro sentido: a intuição! Raramente falha.
Recosto-me ao bambu que forra as cadeiras da jangada, descendo o rio. Sinto o vento fresco na cara e a água refrescante que me dá até ao tornozelo! À minha volta, apenas montes (ok, e o som insuportável do motor improvisado da jangada). Invade-me uma letargia agradável, precisava de abandonar a confusão e a selva de betão!
YangShuo, é por estes dias o paraíso para turistas, “climers” e viajantes… vive-se uma atmosfera agradável.



Peço ao timoneiro da minha barca que me deixasse manejar a estaca de bambu, que ele, com tanta agilidade, maneja. Como quase todos por aqui, também ele é um agricultor dedicado aos campos de arroz e, aos fins-de-semana, transforma-se em comandante de umas quantas jardas de bambu.
Depois de umas dezenas de metros no comando da barcaça, sinto que tenho mais sucesso de volta da Canon.
A silhueta de centenas de jangadas empilhadas e as cores em tons de vermelho dos coletes salva-vidas tomam forma no horizonte. Um burburinho faz agitar as águas em torno da árdua tarefa de voltar a carregar as jangadas nos tractores, fazer umas dezenas de quilómetros para montante e começar a contar a história de novo… assim são os dias no rio Li, em pleno coração da China!



Andas em grandes aventuras. Corres o risco de te transformares em correspondente da National Geographic.
Grande abraço.
Já enviei pra la o CV, agora só me resta aguardar a “volta do correio”… boas noites pelo tâmega 😉
Aquele abraço
Impessionante!Fantástico!
As fotos, a narrativa, a maneira como descreves o espaço, a paisagem, as gentes, os costumes.
Estas fotos só me dão mais vontade de visitar a China. A China do interior, rural, legitima, bela e inigualável!
Obrigada pela partilha.
Beijitos