“Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal”



Os registos do primeiro contingente português a pisar solo chinês remontam aos idos anos de 1513, quando a esquadra liderada por Jorge Alvarez desembarcou na ilha de Shangchuan (na altura, chamada de Tamão). Apesar de Tamão ter sido um importante ponto comercial, por estar demasiado exposto, os portugueses decidiram, com o aval dos oficiais chineses em Guangzhou, deslocar-se para a península de Macau. Macau foi-se tornando um dos mais importantes entrepostos comerciais entre o oriente e o ocidente, reforçando ao mesmo tempo o seu papel fundamental na expansão da cristandade.



Esta importância comercial acentuou-se quando, em 1641, os Holandeses forçaram Portugal a abandonar as Malacas e a deslocarem-se para Goa. Com o florescimento do comércio e a importância dos portugueses nesta zona do globo, Macau torna-se uma peça imprescindível no tabuleiro das rotas comerciais. Ao ritmo do crescimento da importância de Macau, cresce também o número de instituições de apoio e mesmo de portugueses neste território e, em 1586, é criada uma das formas organizativas mais importantes, com forte influência do modelo municipalista medieval português: o Senado.



À época áurea do séc. XVII seguiu-se um período de declínio, com Portugal a romper relações com o Japão e a deixar de controlar as rotas das especiarias, principalmente das Malacas. Esta conjugação de factores fez com que Macau perdesse a importância que tinha tido até então. Com a Primeira Guerra de Ópio de 1841 e a consequente passagem da soberania de Hong Kong para o império britânico, Macau perde terreno, pois Hong Kong vir-se-á a tornar num dos portos mais importantes da Ásia.



Apesar de Portugal ter ocupado gradualmente Macau por mais de três séculos, só em 1887, a China reconheceu a soberania perpétua de Portugal, através do Tratado de amizade e comércio Sino-Português . Este tratado surge no seguimento de uma tentativa gorada de Portugal e China chegarem a um acordo sobre a situação de Macau no âmbito do Tratado de 1862. O enfraquecimento da China e a pressão Inglesa permitiram, que Portugal celebrasse um acordo bastante vantajoso para os interesses lusos.



Mesmo com os anos conturbados da Guerra Mundial de 1939/45 e da conquista do poder por Mao Tse Tung em 1949 e do forte sentimento de independência e unidade nacional que o caracterizava, Macau manteve o seu estatuto tendo-se até tornado uma das principais portas de acesso da China ao mundo. Neste jogo de poderes, Macau tem um papel importante ainda que subtil na ajuda da China à causa independentista Moçambicana. Com a Revolução de 25 de Abril houve uma rápida retirada de todo o pessoal administrativo e militar dos territórios ocupados e Portugal declara a independência de todas as colónias ultramarinas.



Mas como refere JOÃO GUEDES, “para a RPC, a questão de Macau ficava definitivamente arrumada em finais de 1966”, na sequencia do bem conhecido “1,2,3” e a amável recusa da devolução de Macau no pós-25 de Abril, deu-se não porque a China não “a quisesse, mas simplesmente porque ainda não tinha chegado a altura”. Se, por um lado, a China nunca reconheceu Macau como colónia portuguesa, por outro, Macau também nunca o foi no sentido estrito do termo. Em 8 de Fevereiro de 1979, Portugal e a República Popular da China estabelecem relações diplomáticas com acordo assinado em Paris, pelos embaixadores do dois países na capital francesa, o académico António Coimbra Martins e Han Kehua. Na ocasião, os dois diplomatas assinaram secretamente uma acta de conversações sobre o futuro de Macau, em que acordaram que o território fazia parte da China e seria restituído após negociações a efectuar “no momento julgado oportuno”. As negociações culminaram com a assinatura da Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau, em 13 de Abril de 1987, que agendava a transferência da soberania de Macau para a República Popular da China em 20 de Dezembro de 1999.



Nos últimos anos, Macau tem vivido uma era de forte crescimento económico, com a liberalização do sector de jogo e o desenvolvimento do turismo. Todavia, a reboque do desenvolvimento galopante, surgem graves e reais problemas sociais como é o caso da importação de mão-de-obra ilegal ou o agravar do fosso existente entre ricos e pobres. Podemos rematar dizendo que Macau foi o primeiro grande entreposto ocidental na China e, ao mesmo tempo, a última das colónias europeias no Oriente.
Em Macau, o Oriente e o Ocidente encontram-se, mas acima de tudo convivem…