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O magusto da velha (Aldeia Viçosa)

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O sol invernal, filtrado pelas altas colinas da Serra da Estrela, projecta-se nas paredes grossas da igreja de Aldeia Viçosa, na Guarda. No adro, o madeiro de Natal ainda fumega. Paulatinamente, gentes da aldeia e forasteiros vão-se juntando em grupos de olhos fixos na torre sineira, de onde, depois do pai-nosso, começam a “chover” castanhas…

Ano após ano, no dia 26 de Dezembro, cumpre-se aqui uma tradição centenária: o Magusto da Velha.

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Mais de 300 anos volvidos e da benemérita falecida para as bandas do Vale do Mondego em 1698, cuja identidade a história já apagou, resta apenas um testamento transformado em tradição. Quiseram as gentes mundanas que a última vontade da velha fosse eternizada numa chuva de castanhas, que independentemente das previsões meteorológicas, se abatem sobre a cabeça dos mais afoitos.

Aquela senhora, quis um dia que os mais pobres sentissem o calor da quadra natalícias e regalou às gentes da freguesia de Porco, que só muito tempo depois, em 1993,  talvez cansados do gentílico que os havia de perseguir, haveriam as gentes dessa terra, envolta no Mondego, de nascer sob a bênção da toponímia de Aldeia Viçosa, uns belos quilos de castanha e umas valentes pingas de vinho.

Se a tal senhora morreu de velha, não podemos afirmar, mas com o passar dos anos o seu legado permanece e até aos dias de hoje se celebra “O Magusto de Velha”, rivalizando com outras tradições natalícias tão beirãs.

 

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As castanhas continuam assim a cair pela torre da igreja, enquanto o vinho escorrega pelas gargantas de todos os visitantes, como um presente de natal oferecido, nos dias de hoje, pela junta de freguesia.

Foram 100 quilos de castanhas e 100 litros de vinho que este ano cumpriram a tradição a preceito. Queria a velha que em troca de tal generosidade se rezasse um pai nosso pela sua alma e salvação eterna, mas quer parecer que nos dias que correm a sua salvação esteja mais entregue às gargalhadas e brincadeiras dos que se juntam em volta da igreja para um divertimento tão pouco comum!

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Os tempos difíceis de outrora, quando apenas uma vez por ano de os mais desfavorecidos podiam comer castanhas e beber vinho, ficaram amarrados ao passado e não foram pelas guloseimas que voam juntamente com as castanhas em direção ao solo, quer parecer que se perdia algum do entusiasmo dos mais novos. Já os adultos podem sempre aproveitar para, na companhia de amigos e família, provar o vinho oferecido.

A única coisa que parece imutável até aos dias de hoje são os 48 cêntimos, que a junta de freguesia recebe dos instituto de gestão do crédito público, a título de renda perpétua, por se a tradição ainda é o que era, a inflação não perdoa.

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os meus trilhoshttps://osmeustrilhos.pt
Somos uma família apaixonada… apaixonada pelo mundo e pelas viagens, sejam elas curtas ou longas. Mas a maior das viagem começou há pouco, quando à equipa se juntou o pequeno Simão. Durante uma parte do ano vestimos as capas de dois burocratas do funcionalismo público, na outra, metemos a mochila às costas, pegamos no Simão, e vamos por aí… ver com outros olhos, conhecer o mundo, conhecendo-nos cada vez mais a nós próprios. Adoramos grandes aventuras por lugares longínquos, mas também gostamos de pegar no carro e andar por aí, sem destino. E porque a viagem não acaba nunca, como dizia Saramago, depois da viagem passamos tudo para aqui: textos, fotos, vivência, enfim… a nossa viagem! Um pouco de tudo num blog que é da Guarda para o mundo! Tudo sobre nós >>>

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