As retas são a perder de vista, parece que não há fim neste mundo.
Entramos na Andaluzia. A paisagem característica, os típicos campos ondulantes pintalgados aqui e acolá com oliveiras, ainda não são abundantes. Sente-se o calor seco, a terra é vermelha e gasta. E gente? Gente, nem vê-la.



São dezenas de kms na maior das solidões. O volante queima com o sol, e no horizonte, por muito que me esforce, não consigo alcançar o final da estrada. Dá para dormir um sono e acordar antes de chegar à curva, penso.
A paisagem muda radicalmente antes de começarmos a descer em direção a Córdoba. Atravessamos a austera e desertificada Sierra Morena, que se estende por todo o norte da Andaluzia. Ao longe avista-se o casario de um pueblo. Na torre cimeira da igreja vestida de branco, consegue-se distinguir a silhueta de uma cegonha enfiada no ninho.
A Andaluzia não são só as tapas e touradas, a cultura gitana e os traços mouriscos. Também há aldeias desertificadas, pueblos abandonados com sinais evidentes, daqueles que o povo diz e com razão, que o tempo não perdoa.
Córdoba, surge como do nada, plantada no vale formado pelo Guadalquivir, ou como se diz em árabe, al-wādi al-kabīr (الوادي الكبير), “O Grande Rio”.



Desde cedo, cobiçada por muitos, a cidade que é dividida a meio pelo grande rio, viveu a sua idade de ouro com a vinda dos Mouros. Sendo a capital ocidental do império islâmico, chegou a rivalizar com a imponente Bagdad, pelo menos ao nível da riqueza e sofisticação.
Do lado de cá do Guadalquivir a vista é extraordinária. A luz do fim de tarde reflete-se nas paredes velhas da catedral. Os andaluzes estão novamente na rua.
Atravessamos a ponte romana de 16 arcos que nos leva direto ao coração de Córdoba.
Assombra-me a sensação de que pouco mudou desde que foi uma gigantesca metrópole, capital de um império, a cidade mais populosa do mundo.



As ruelas da judiaria são estreitas e empedradas. De quando em vez, os pátios típicos da Andaluzia mostram vasos coloridos que contrastam com a brancura das paredes estreitas.

Mas é mesmo no coração, no cerne da cidade que mora a jóia da coroa. Na grande mesquita encontraram-se culturas, agora geograficamente afastadas, mas que por séculos conviveram na península ao mesmo tempo que se mesclavam.
Hoje, catedral católica, outrora mesquita devota ao islão! Poderá ter albergado outros cultos, talvez, mas resta muito mais da traça arquitetónica e artística do que das fés que acolheu na imensidão das suas colunas, paredes e azulejos.

Mas o declínio apareceu. A cidade deslumbrante, a mais povoada do mundo (Séc. IX), foi alvo de invejas, guerrilhas e pilhagens. Enfraqueceu, foi tomada aos mouros por Fernando II e lentamente caiu no esquecimento…
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