Tenho que me confessar. Estou a ficar apaixonado por estes monstros de pedra. Gosto de lhes sentir o toque, rugoso, frio… Diz o povo, não sei se com razão, que água mole em pedra dura tanto dá até que fura… O povo é sábio! Perscruto o coração destas pedras, tento arrancar-lhes à força o sentido, um sentimento, já me contentava com um “acenar” de cabeça



Pode haver imagem mais maravilhosa que a de um monstro de pedra, resistente aos tempos e até à água? Um monstro que liga duas margens? Ou dois países? Ou um, talvez dois, sentimentos? Se os homens têm o amor, capaz das mais extraordinárias façanhas, as margens têm as pontes. Que seria delas sem este “amor” que as unisse?
Pontes há-as de todas as espécies, até já as vi de esparguete (a sério…), mas esta onde estou transforma-me, faz-me sentir pequeno perante esta grandeza, e a grandeza daqueles que construíram o “amor” entre estas margens. Margens que até então não se tocavam, não sentiam o calor oposto, não partilhavam alegrias e tristezas daqueles que ao longo dos séculos por aqui fizeram caminho.
A Torre de Ucanha localiza-se na freguesia de Ucanha, no concelho de Tarouca.
Lançada sobre o Rio Varosa, constitui o elemento de união entre dois núcleos urbanos pertencentes a diferentes freguesias, Ucanha e Gouviães. Sobre a ponte, a torre ergue-se isolada na margem direita, marcando a entrada no Couto do Mosteiro de Salzedas, de que a Vila de Ucanha era cabeça. A ponte terá começado a ser construída pelos Romanos, no seguimento de uma estrada que por ali passava, mas a construção da torre fortificada remonta ao Séc. XII e tem uma arquitectura militar gótica.



A Ponte e a Torre da Ucanha são exemplos únicos deste tipo de fortificação conservando ainda a totalidade da torre.
A existência deste complexo medieval já vem documentada no século XII. D. Afonso Henriques doou, em 1163, à viúva de Egas Moniz, Teresa Afonso, o couto de Algeriz, acrescentando-lhe o território de Ucanha. Os monges foram quem mais beneficiou da velha ponte, convertida em apreciável fonte de rendimento pelos direitos de portagem que seriam cobrados.
Em 1324, D. Dinis pretendeu favorecer as gentes e vila de Castro Rei, concedendo-lhes o privilégio da passagem de Moimenta para Lamego, mas face à pressão dos frades de Salzedas, o rei confirmou tal privilégio a Ucanha. A torre tem vinte metros de altura e dez de cada lado da base, onde se encontra a seguinte inscrição “Esta obra mandou fazer D. Fernando, abade de Salzedas, em 1465”.
Espectacular, sim sr. (E não é que o moço escreve bem? 😉