Gosto de estações de comboios, gosto de as ver cheias, com vida, mas gosto acima de tudo de ver passar os comboios. Gosto de ver as máquinas poderosas, gosto de ver as pessoas, os beijos e abraços, o cochicho e o carinho, os choros e a despedida…
Adoro as estações de comboios quando parto, quando a deixo para trás, porque sei que algures na viagem haverá outra, outra estação, outro lugar. As estações são lugares, têm vida. Não são estéreis. São o oposto dos aeroportos.
Hoje não vim ver os comboios.
Mas alguém por cá, na sua vetustez perceptível, olhava para linha na esperança que o comboio passasse. É mais fácil que o tempo passe pelo rosto da velha sentada, do que o comboio, objecto raro por estas paragens, passe por aqui…



A modernidade provinciana abriu a ferida e o progresso imposto pela ex-CEE deu a machadada final, ditou-lhe a morte lenta. Os comboio são raros. Passam aqui de quando em vez.
Estranha o viajante estar numa das principais entradas do país, coisa estranha esta calmaria…
A estação cultiva a imponência e beleza de quem dá as boas-vindas aos visitantes. A frontaria, bordada a azulejo reflete já a luz amarelada do final do dia. As laterais, virada para quem chega, anunciam num azul luminoso “PORTUGAL”, de um lado o Convento de Jesus e do outro a Fonte das Figueiras.
Parto, sem ver os comboios… na esperança que eles nos apanhem por ai, pelo mundo fora!