Começámos, no Eixample, ainda cedo. Metemo-nos no metro até ao ex libris da cidade, a obra-prima de Gaudi, Templo Expiatorio de la Sagrada Familia. Sentimos a primeira lufada de ar, empestada pelas pessoas que se movem aos milhares no metro.
Quando saímos para o exterior, uma muralha de betão com as mais diversas figuras estendia-se à nossa frente. Torres que se elevam até aos céus, criaturas fantásticas que parece saíram das malhas em que se encontravam presas, um sem número de figuras da natureza que se encostam ao betão. São símbolos, crenças, sonhos, que os seus criadores quiseram deixar marcados nas paredes deste templo.

Barcelona é uma cidade em construção, em constante mutação, se calhar também ela reflexo do seu símbolo maior, a Sagrada Família.
A Sagrada Família começou a ser construída em 1882, a partir dos projetos de Francisco de Paula del Villar, e desde então, nunca mais parou. As gruas gigantes que se erguem entre as suas paredes parem já fazer delas próprias.
Esta é sem dúvida a obra-mestra de Gaudí, que em 1883 tomou conta da sua construção. Ainda que seja, o ex libris de Barcelona, esta cidade, como vamos ver, esconde outros encantos.



Como expoente máximo do modernismo catalão podemos encontrar nesta basílica tudo aquilo que procurava esta corrente preconizava: uma rutura com os “modos” instalados e com a agitação da cidade, o culto pela natureza, pelos seus elementos e pelas suas formas, o culto pelo movimento.
Aquando da morte de Guadí, em 1929, apenas estava construída a primeira torre. Desde então, com base nos desenhos do arquiteto e no modelo de gesso que sobreviveu, ainda que bastante danificado na Guerra Civil Espanhola, o Templo Expiatorio de la Sagrada Familia tem ganhado forma e, segundo os mais otimistas, ainda podemos contar com mais meio-seculo de trabalhos.



Entramos ainda sem sabermos com o que contar. Decidimos vir cedo por forma a fugir à multidão, afinal segundo os dados disponíveis, visitam a Sagrada Família, todos os anos, cerca de 2,5 milhões de pessoas. Toda a obra está carregada de símbolos, da mais pequena pedra à mais espantosa das esculturas, assim que é imprescindível um áudio-guia (veja aqui como aceder a áudio-guias grátis).



Assim que atravessamos a porta da principal da fachada da paixão, somos inundamos por uma luz extraordinária, limpa, sem perturbações. O formato das colunas que se erguem e a luz que as atravesse transporta-nos para um bosque, numa qualquer manhã de inverno, com a luz a perfurar por entre o nevoeiro matinal. Gaudí queria que se sentisse a natureza, pois bem, conseguiu-o à primeira.



O interior da basílica é, sem dúvida, à parte mais fascinante de todo o edifício. Diz-se que Gaudí estudou minuciosamente a evolução das flora e da fauna em pleno contacto com a natureza, tentando descobrir padrões e formas para poder aplicar na sua obra.
Recorreu magistralmente às hipérboles, reparou na forma como se desenvolviam os troncos das árvores, como cristalizavam os cristais e como se moviam os animais. A sua entrega foi tal que durante anos viveu na Sagrada Família e aqui se encontra sepultado, depois de ter morrido na sequência de um banal acidente, atropelamento por um eletrico.
Subimos às torres e avistamos, pela primeira vez, Barcelona em todo o seu esplendor, desde os bairros do Eixample, delineados a régua e esquadro, até ao amontoado medieval do Barri Gòtic.



Descemos, aleatoriamente, descobrindo em cada canto um pormenor, só decifrável à custa dos áudio-guias que nos acompanham.



Em frente da Porta da Natividade, a única a ser concluída ainda enquanto Gaudí era vivo, demos conta da forma com que o arquiteto se dedicou aos pormenores. Tudo é simbolismo, até no mais pequeno dos detalhes. Gaudi recorria frequentemente a esqueletos, animais e seres humanos para estudar as suas formas e verificar, no seu atelier, a expressão dos mesmos. Conta-se que o burro que se encontra retratado na fachada da natividade terá vivido no atelier do arquiteto, durante dias, por forma a ser estudado até ao mais ínfimo dos detalhes.
Por fim percorremos o museu da Basílica, e as oficinas, onde ainda hoje se trabalha, mas agora, com recurso às mais vanguardistas tecnologias.



Bem, já cá fora descobrimos as figuras controversas de Josep Maria Subirachs que se distribuem por toda a fachada da paixão e detemos-nos a a decifrar o chamado “quadrado mágico”, mais um exemplo da enorme simbologia que trespassa todo o trabalho de Gaudí. Subirachs juntou à obra este quadrado de 16 números que cuja soma, em qualquer sentido, resulta sempre em 33. A idade de Cristo quando morreu. Podem fazer-se 310 combinações diferentes sempre com o mesmo resultado, 33.






Cá fora, demos trabalho ao “setas”, naquela que foi a nossa primeira “cache” em Barcelona.
INFORMAÇÕES PRÁTICAS
Preço
Geral: 13€ | Estudante: 11€
Nota: a subida às torres é cobrada à parte, são 3€. Atenção – como em quase todos os locais em Barcelona, também aqui os estudantes têm um desconto bem generoso. O bilhete de entrada pode também ser combinado com a Casa Museu Gaudi (no Parque Guell). Depende dos gostos, mas pessoalmente, a Casa Museu não vale o dinheiro…
Desconto com o Barcelona Card.
Mais informações sobre bilhetes e horários.
Nota: é normal existirem grandes filas para entrar, por isso, vá cedo e evite os fins de semana.
Localização:
A Sagrada Família localiza-se no Eixemple, mesmo na saída da estação de metro “Sagrada Família!, linha 2 ou linha 5.
Mais Informações em:
http://www.sagradafamilia.cat/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_Expiat%C3%B3rio_da_Sagrada_Fam%C3%ADlia
Estive lá este mês e adorei, é qualquer coisa fantástica, recomendo!
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UAU! Fotos fenomenais!! Também gostei muito de Barcelona!
fotos fantásticas dignas de livro mesmo. a Sagrada Família é O monumento de Barcelona, imponente e enigmática deixa qualquer um desconcertado. Em 2009 na minha última visita ainda a nave central não estava acabada pelo que se podia ver ainda o céu. Agora pude ver as grandes mudanças que aconteceram e que trouxeram ainda mais beleza a este edificio que como dizem repleto de simbolismo. Numa das vossas fotos podemos reparar num, os guardas que ladeiam a estátua da Virgem Maria na fachada da Paixão têm o capacete igual às mais famosas chaminés da casa Milá. Explorar o templo e os seus mistérios foi dos momentos mais enriquecedores que tive na cidade.
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