A cada passo na nossa viagem pela América Latina, demos de frente com o sal, ou melhor, o cloreto de sódio, ou ainda, com escrevem os químicos, NaCl.
Mais à frente vamos pisar, correr e saltar e até dormir no maior deserto de sal do mundo. Mas se o Salar de Uyuni é uma autêntica maravilha criada pela excelsa natureza, as majestosas salinas de Maras resultam do engenho da condição humana, das suas necessidades e persistência ao longo dos séculos.
São curvas e mais curvas, uma estrada poeirenta e de terra batida. Somos sempre acompanhados, ao longo do caminho, pelo monumental Salkantay… que dos seus cumes nevados lança um olhar vigilante sobre todo o vale.
De repente, uma claridade imensa abre-se diante de nós e damos de frente contra 5 mil “poças” de sal. Despertamos da sonolência provocado pelo embalo das curvas e do sol forte destas altitudes andinas.
Lá baixo, as poças alinham-se num caos organizado. Há uns poucos trabalhadores que recolhem o sal que a natureza dá. A água, que jorra não se sabe bem de onde, transporta consigo este “mineral” cobiçado.
O sal sempre teve um papel importante nas economias desde os tempos mais remotos da humanidade, ao ponto do pagamento do trabalho diário ter sido pago em sal, e daí o nome “salário” – salarium argentum – o pagamento que era feito em sal. O ouro-branco, cristalino, sem aroma, desde os tempos mais remotos exerce um fascínio no homem, o tempero da comida, o tempero da vida.
A extração de sal nas Salineras de Maras – em quechua, diz-se kachi Raqay – perde-se no tempo, remontando à época pré-inca. Há milhares de anos que as poças passam de família em família, de forma hereditária.
A água salobra emerge de uma pequena corrente de água natural subterrânea. É direccionada para um complexo sistema de pequenos canais construídos de modo a permitir que a água corra gradualmente para as várias centenas de pequenas lagoas em forma de escadas. Por ação do sol, a água vai evaporando, deixando atrás de si cristais de sal,
Nas Salineras de Maras o labirinto de lagoas é impressionante. Avançamos lentamente entre os poços. Provamos a água, altamente saturada e de uma salinidade que até se sente nos dentes.
Não tem iodo, por isso há que consumi-lo com parcimónia. Há barraquinhas que vendem sal à entrada das salinas. Há sal de mil maneiras. Inspecionamos cada uma delas, lentamente, enquanto bebericamos uma chicha morada que por ali uma velhota vendia a copo.



Uau, américa latina… ainda tenho muito para descobrir aí! Quero muito ir às salinas. Parabéns pelo blog, belas fotografias 🙂