20 Graus, estamos em Bruxelas?
Eu sei que estou sempre a falar do tempo, mas é que dias assim são dignos de registo tanto mais que hoje o meu trilho leva-me ao “countryside”.
Não é a primeira vez que digo que a Bélgica é um país estranho quase sem identidade, eu sei que sofro do mal crónico de estar a viver em Bruxelas e julgar a Bélgica por Bruxelas, isto é o todo pela parte que em bom português seria uma metonímia. Sim, mas apesar de tudo tem coisas absolutamente fascinantes, os seus castelos e abadias apaixonam qualquer um e aqui há-os para todos os gostos. A Bélgica tem a mais alta taxa de castelos por metro quadrado do mundo.
Mas hoje o meu trilho leva-me à “L’Abbeye de Villers-La-Ville” .
O trajecto faz-se rápido aproveitando o desconto de fim-de-semana nos comboios belgas. Uma pequena paragem e mudança de comboio em Orringnies, foi suficiente para entrar noutra dimensão. Parecei que estava em Portugal, mas há uns largos anos atrás. O comboio parecia tirado de um filme, uma espécie de melancia de cores invertidas, por fora, um vermelho escuro ferrugento e a denotar a passagem do tempo por dentro um verde imaculado que fazia lembrar as mobílias dos anos 60. Sento-me e sinto o peso dos anos, o lamento da velha máquina cansada do transporte, cansada de ouvir os lamentos incansáveis daqueles a quem faz o frete de transportar, afinal para muitos é apenas um troço de metal. Eu sei que não, eu sinto-lhe a vida, consigo ouvir o seu coração e de vez em quando um respirar mais ofegante quando a morfologia do terreno a isso obriga.
Villers-la-Ville é um povoado típico da Valónia, com o seu apeadeiro e a Abadia para trazer turistas.
A Abadia é impressioante, um amontoado de pedra que a-pouco-e-pouco vão tomando forma. Sente-se o silêncio de outrora sem que seja necessário altos exercícios de memória e imaginação.
Conta-se que em 1146 saíram de Claraval, um abade, doze monges e cinco leigos no intuito de encontrarem um local e aí fundarem uma abadia. Chegados a Viller e escolheram um local banhado pelo rio e com bons provimentos de madeiras e outros materiais. Todavia esta teria sido uma morada temporária já que no Séc. XIII foi erigida a nova abadia correspondendo aos normais cânones cistercenses.
Hoje apenas encontramos as ruínas daquela que outrora foi o “pouso” de dezenas de eclesiásticos… mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e até eu vou mudando ao sabor dos tempos e dos trilhos que vou cursando!