Uma viagem pela Irlanda do Norte durante 5 dias, desde Belfast a Derry, um roteiro que incluiu uma roadtrip pela Causeway Costal Route, com passagem pela magnífica calçada do Gigante.
A nossa viagem pela Irlanda do Norte ocorreu nas duas últimas semanas de setembro de 2019. Se é bem verdade que o tempo irlandês é bastante imprevisível, nós podemos considerar-nos sortudos, já que apanhamos uma bela semana de sol.



A nossa roadtrip, pela Irlanda do Norte, começa em Belfast, mas já vimos de Dublin, onde chegámos no dia anterior, num voo da Ryanair, diretamente do Porto. Foi só pegar no carro na Hertz do aeroporto e fazermo-nos à estrada.
Passamos cerca de 2 dias e meio em Belfast. Foi o tempo suficiente e disponível, diga-se, para explorarmos a cidade com o Simão, que então tinha 14 meses. Não visitamos tudo o que queríamos, mas se nas viagens “normais” já é difícil escolher do que abdicar, imaginem quando viajamos com um bebé.
De Belfast, seguindo, durante 2 dias, a famosa Causeway Costal Route, atravessamos este pequeno território até à segunda cidade mais importante, Derry. Derry é famosa agora pela série da Netflix “The Derry Girls”, mas esta cidade já havia ficado na história por episódios bem mais tristes. Foi aqui que em 1972 o exército britânico matou mais de 14 manifestantes naquele que ficou conhecido como o Domingo Sangrento, ou Bloody Sunday.



Pelo caminho vamos ver paisagens espetaculares onde o verde luxuriante é constante e os campos se estendem até ao mar. Vamos atravessar pontes suspensas e caminhar numa calçada que, segundo a lenda irlandesa, foi construída por um gigante. Pela espectacularidade e importância geológica, foi declarada pela UNESCO como património da Humanidade.
Escusado será dizer que, para os amantes da Guerra dos Tronos (veja aqui um guia com os lugares onde foram gravadas as cenas na Irlanda do Norte), este é um lugar especial pois aqui foram gravadas várias cenas, cujos lugares onde foi rodada a série são facilmente visitáveis.
Tivemos de abdicar de alguns lugares e de atividade que gostaríamos de fazer, mas que, por um ou outro motivo, não foi possível. Esses lugares vamos também falar deles e da forma como os visitar.
Bem, vamos a isso?
1º, 2º e 3º dia | Roteiro pela Irlanda do Norte
os primeiros dias na Irlanda do Norte foram para explorar a sua capital: Belfast!
Quando se fala em Belfast e na Irlanda do Norte, fala-se inexoravelmente em conflito. Os “Troubles” marcaram os anos 60, 70 e 80, com atentado, grupos terroristas, vítimas… Mas, volvidos, mais de 20 anos dos pacificadores acordos de sexta-feira santa, os sinais do conflito ainda são bem visíveis nas ruas, principalmente nas zonas ainda separadas pelos “muros da paz”.



Viemos a Belfast, não só porque aqui começa uma das mais bonitas estradas de costa do mundo – a causeway costal route – mas também para aprender mais sobre a história deste território, sobre a política e, se possível, um pouco das origens do conflito.
Apesar dos sinais ainda visíveis do conflito, encontrámos uma cidade vibrante, moderna e cosmopolita.
Passámos dois dias e pouco em Belfast, apesar de não ser o ideal, foi suficiente para visitar os principais atrativos. Belfast é uma cidade pequena, que facilmente se pode visitar a pé, com exceção de alguns pontos mais distantes do centro, como é o caso do Castelo de Belfast e do Parlamento. Ainda assim, prepare-se para umas belas caminhadas.



Nós aproveitávamos para fazermos as caminhada mais longas depois de almoço, assim o Simão dormia a sesta no carrinho, permitindo manter as (possíveis) rotinas diárias em viagem.
Adoramos os longos passeios que fizemos pelo waterfront, e pelo centro da cidade. Mas ficamos foi mesmo rendido ao Titanic Museum, um museu extraordinário que conta a história do Titanic, desde sua conceção, construção e lançamento, até sua viagem inaugural e seu subsequente lugar na história.



São imperdíveis as visitas aos Muros da Paz, que ainda hoje separam católicos e protestantes. Sabiam que, nos dias que correm, os portões são encerrados à noite, não permitindo a passagem de um ao outro bairro? Pois é… mesmo aqui ao lado.
Há muito para visitar em Belfast, e por isso aqui fica uma lista com os lugares e experiências que gostámos mais. Se que conhecer com mais pormenor todos os atrativos que esta cidade tem, é só seguir o link do nosso guia completo e descobrir tudo o que visitar em Belfast.
- Conheça a história de Belfast através da industria naval e descubra os mistérios do navio Titanic no Titanic Museum.
- Visite o incrível mercado de São Jorge
- Aprender sobre este território no Museu do Ulster
- Ao lado do Museu do Ulster, passeie pelos Jardins Botânicos
- contemplar a arquitetura da Grand Opera House
- Beber um pint no Bairro da Catedral e visitar a Catedral de Santa Ana
- Passear pelo waterfront, em Donegall Quay, sentir o ar fresco do Rio Lagan e apreciar as famosas obras “The Big Fish” e “Beacon of Hope“.
- Delicie-se com vistas fantásticas sobre Belfast desde os Miradouros de Divis e Black Mountain Walk
- faça uma visita guiada ao Belfast City Hall
- Visite a prisão mais histórica de Belfast – Crumlin Road Gaol
- Veja a cidade à noite, principalmente o icónico edifício do Titanic Museum
- Saia fora do city center e visite o Castelo de Belfast



4º dia | Roteiro pela Irlanda do Norte
uma roadtrip pela mítica Causeway Costal Route
Acordámos cedo, sabendo que hoje deixaríamos Belfast e começaríamos a nossa travessia a Irlanda do Norte em direção a Derry, na ponta oeste.
Mal terminámos o pequeno almoço, e na tentativa de não apanhar muito trânsito, lançamo-nos à estrada. Os primeiros quilómetros da Causeway Costal Route seguem pela zona urbana. Até que, a pouco e pouco, o bulício e o acastanhado da cidade grande começa a dar lugar ao verde dos campos e ao azul do oceano. Há gente com sorte, e nós temos sido desse grupo. O dia está quente e com sol, coisa rara num país onde chove mais de 260 dias por ano. Ouvimos uma senhora, já de idade avançada, dizer com um sorriso nos lábios “what a lovely day”.



Circulamos lentamente junto à costa. Vamos parando amiúde pois o Simão começa a ficar impaciente, também quer desfrutar de tamanha natureza. A primeira paragem digna de registo foi na Praia de Ballygally, para esticar as pernas e meter conversa com o urso que nos sorria 🙂






Como a barriguinha já dava horas, principalmente a do Simão, aproveitamos para almoçar uns kms mais à frente, em Ballycastle, numa cafetaria simpática que tinha uns capuchinos gigantes. Depois do almoço, rumámos à abadia de Abadia de Bonamargy Friary, mesmo à entrada da cidade e que, apesar de em ruínas, conserva ainda o charme de outros tempos, tudo envolto num verde majestoso.






Voltámos à estrada e fizemos um pequeno desvio para visitar um dos lugares mais concorridos desta rota, tudo graças à Guerra dos Tronos.
The Dark Hedges, ficou famoso por ser representado na série como a Estrada do Rei tendo gerado uma autêntica romaria nos últimos tempos (até começarmos a preparar a viagem, nem sabíamos da sua existência). Não passa de uma cinematográfica estrada ladeada de gigantescas árvores, bem, mas que tem o seu encanto, lá isso tem. Não é permitido deixar o carro na estrada, mas facilmente se pode estacionar no parque do hotel que fica mesmo ao lado, podem encontrar informação detalhada aqui.



Depois da visita ao The Dark Hedges voltámos a Ballycastle, para retomarmos a Causeway Costal Route, por mais uns kms até Ballintoy. Ballintoy é uma pequena vila piscatória e a razão da nossa paragem prende-se com outro dos lugares mais icónicos desta rota, a Carrick-a-Rede Rope Bridge.



A ponte de cordas de Carrick-a-rede é uma ponte suspensa de cordas com 20 metros de comprimento situada a 30 metros sobre o mar e une uma pequena ilha chamada Carrick-a-Rede.



Para lá chegar há que caminhar durante cerca de 10 min, desde o parque de estacionamento e da bilheteira. Como já chegámos ao final do dia, havia poucas pessoas no local, mas parece que para passar a ponte, nos dias mais concorridos, podemos ter de esperar bastante. A entrada custa 9 libras, mas valem bem a pena. Mais informações sobre horários de abertura e preços no site do National Trust.



Quem disse que na Irlanda é tudo verde? Também há praias gigantes de areia branca e água… gelada! A caminho de Bushmills, onde iamos dormir, demos de frente com uma praia destas, linda não é? Infelizmente, não tivemos tempos de descer até à praia de Whitepark Bay, porque o dia começava a findar e ainda tínhamos uns kms até ao alojamento. Mas ficamos com água na boca.



Lugares que mais gostámos neste primeiro dia na Causeway Costal Route – Irlanda do Norte
- Praia de Ballygally
- Garron Point e as vistas para Waterfoot
- Ballycastle
- Abadia de Bonamargy Friary (entrada grátis)
- The Dark Hedges (entrada grátis)
- Carrick-a-Rede Rope Bridge (entrada 9 libras)
- Whitepark Bay Beach (entrada grátis)
5º dia | Roteiro pela Irlanda do Norte
Causeway Costal Route ( Bushmills / Giant’s Causeway / Derry)
Este é o último dia na Irlanda do Norte e ainda há muito que ver, por isso, toca, mais uma vez, a levantar cedo.
Regressámos, agora a família completa, à Calçada do Gigante. E dizemos “regressámos” porque, no dia anterior, como o entardecer prometia um por do sol colorido, o Sérgio aproveitou para ir sozinho à Calçada do Gigante tirar fotos do entardecer. Mas hoje o dia acordou frio e húmido, mas apostamos e decidimos tentar a nossa sorte para ver a calçada ao romper da aurora envolta no nevoeiro matinal. Tomamos o pequeno almoço e lá fomos.



Havia apenas um par de pessoas na calçada. Tivemos aquele magnífico lugar só para nós durante uns bons 20 min. Até que começaram a chegar às hordas de pessoas.



- para visitar a Calçada do Gigante não é necessário pagar qualquer bilhete. A estrada de acesso está aberta 24h por dia. Não é permitido levar o carro até às calçada, por isso deixe-o no parque de estacionamento do Visitor Center e faça o resto do percurso a pé. São cerca de 20min.
- para os mais preguiçosos ou com mobilidade reduzida, depois das 9:30, há um mini bus que faz o percurso entre o Centro de Visitantes e a Calçada do Gigante.
- Ainda que não seja preciso pagar bilhete para visitar a Calçada, pode sempre visitar o Visitor Center que custa £12.50 está a ajudar na preservação deste momento natural que é património da Humanidade.
- Por vezes, principalmente na época alta e nas horas de pico, pelo que nos disseram, não é fácil arranjar estacionamento junto ao Visitor Center. Também não é conveniente deixar o carro estacionado na berma da estrada, já que as estradas na Irlanda são bastante estreitas, depois você vai ver. Arranje um alojamento perto da Calçada do Gigante, como nós fizemos, e que tenha estacionamento privado no local, assim pode fazer tranquilamente uma caminhada do hotel até ao local.



Mas regressamos ao nosso roteiro. Depois de uma longa visita à Calçada do Gigante, regressamos ao hotel para recolhermos as nossas coisas e voltamos à estrada.
A poucos quilómetros da Calçada do Gigante está a vila de Bushmills. Se não é apreciador de um bom whiskey de malte, este nome pode dizer-lhe pouco, mas é aqui que está a destilaria de um dos whiskeys mais famosos do mundo, o Bushmills. É possível visitar a destilaria e fazer uma prova. Se não teve oportunidade no dia anterior, agora é o momento. Tenha cuidado com a condução que as estradas na Irlanda exigem os sentidos em apurados 🙂



O Castelo de Danluce, que ficou na nossa rota, tinha acabado de romper da neblina e a luz matinal reluzia nas gotículas de orvalho que se acumulavam na vedação. Eram já muitas as pessoas que se alinhavam para visitar o castelo. Como o nosso dia ia ser longo e queríamos estarem Derry por volta da hora o almoço para uma visita guiada pelos murais, optamos por não entrar no castelo, mas dizem que é muito bonito.



Seguimos, junto ao mar por mais uma hora na Causeway Costal Route até nosso último destino na Irlanda do Norte, a cidade de Derry / Londonderry.
Chegamos a Derry era quase meio dia. Fomos de imediato ao Museu Free Derry de onde saía ao meio dia uma visita guiada pelas ruas do Bogside onde em 30 de janeiro de 1972, às mãos do exército britânico, morreram 14 ativistas católicos e outros 26 ficaram feridos, no que ficou famoso como o Domingo Sangrento, eternizado na música dos U2, Sunday Bloody Sunday.



Durante cerca de uma hora percorremos com o Christian às ruas de Derry. Ajudou-nos a perceber os murais, contou-nos a história das gentes do seu bairro, do conflito com o exército britânico, com os protestantes e de todas as ideias pré feitas que são divulgadas na comunicação social. Nas palavras dele, categorizar o conflito (the troubles) como uma questão religiosa serviu apenas para esconder as políticas segregacionistas que o Reino Unido levava a cabo na Irlanda do Norte, contra a maioria católica.



Mas há mais que ver em Derry/Londonderry, a segunda cidade da Irlanda do Norte:
No centro histórico de Derry é onde estão concentrados a maior parte dos locais de interesse turístico. O centro histórico é bastante pequeno, podendo ser percorrido facilmente a pé. Resumidameente:
- No “Bogside”: o Free Derry Corner, os murais de Derry e o Museum of Free Derry
- A muralha de Derry. Derry tem a mais bem conservada muralha de toda a ilha, muralha que circula completamente o centro histórico. Com cerca de 1,5 km, pode ser percorrida a pé, proporcionando vistas excelente sobre a cidade.
- A “Peace Bridge”, lugar privilegiado para terminar o dia e, se tivermos sorte com o tempo, apreciar o por do sol.
- Derry Tower Museum é um dos mais importantes museus da cidade, imprescindível para quem quer conhecer melhor a história desta cidade do Ulster.
- St. Columb’s Cathedral: depois da Reforma, esta é a primeira catedral protestante construída em solo britânico.
Alojamento na Irlanda do Norte e na Causeway Costal Route
O alojamento na Irlanda do Norte, como também na República da Irlanda, não pode ser considerado muito barato. É dificil arranjar hotel ou B&B por menos de 80€ a noite. Os preços sobem ligeiramente ao fim de semana e é mais fácil conseguir boas oportunidades se reservarmos com antecedência.
Durante os dias que estivemos na Irlanda do Norte, optamos por ficar sempre em apartamentos ou em cottages (que são casas em zonas rurais).
A razão é simples: como o Simão ainda está na fase das comidas sem sal e pouco condimentadas, optamos por cozinhar nós próprios e termos (quase) sempre comida fresca para ele. Além do mais, a Irlanda não é famosa pela sua vasta culinária e por preços convidativos, por isso, o apartamento foi uma excelente opção.
- Em Belfast ficámos nos Belfast Dream Apartments, mesmo no centro da cidade, na zona de Donegall Quay a uns 15 min a pé do Titanic Quarter.
- Em Bushmills (a meio da Causeway Costal Route) ficamos alojados Ballylinny Holiday Cottages, a 10 min a pé do Giant’s Causeway, numa enorme e simpática cottage. A cottage era excelente, com aquecimento, lareira, diversos quartos e com estacionamento privado e gratuito.
Como quase sempre fizemos as reservas através do Booking, depois de compararmos com outros sites de reservas, este foi o que apresentou os preços mais baixos.



Nota: é bastante normal pedirem uma caução quando reservamos apartamentos, caução essa que para 3/4 dias pode ultrapassar os 200€, por isso, não se assustem. A caução é bloqueada no Cartão de Crédito e devolvida no final, se nada de grave tiver acontecido com o apartamento.
Alugar carro na Irlanda do Norte
Nós alugámos o carro ainda em Dublin, no aeroporto, através da Hertz. É fundamental fazer um seguro contra todos os riscos (aka super cover). Se não fizerem este seguro junto da rent-a-car é bem provável que vos peçam um depósito entre os 1200€ e os 1500€. Bem, mas se vamos conduzir pela esquerda num país que não conhecemos, não vamos arriscar, pois não? O seguro ronda os 22€ a 25€ por dia e normalmente não incluem danos em pneus e jantes.
Nunca é demais referir que na Irlanda do Norte se conduz pela esquerda. É uma questão de hábito, mas o nosso cérebro habitua-se rapidamente a conduzir pela esquerda, tão rápido que o Sérgio chegou ao Porto e ia logo entrando em contra-mão. ?



Uma boa dica é manter sempre o condutor no centro da via, enquanto o pendura vai encostado à valeta. Os pedais são exatamente como em Portugal. As mudanças metem-se com a mão esquerda, mas os piscas estão no mesmo sítio que em Portugal. Nas rotundas entra-se pela esquerda, logo faz-se ao contrário e damos prioridade a que vem pela direita.
As estradas nacionais na Irlanda, fora dos grandes centros urbanos, são bastante estreitas, sem bermas e com veneração quase em cima da via. Se conduzir um carro maior, tenha atenção redobrada.
O preço da gasolina/gasóleo é semelhante a Portugal.
Quantos dias devo reservar para a Causeway Costal Route?
A Causeway Costal Route tem cerca de 320 quilómetros, portanto, em teoria, poderia ser percorrida de carro em menos de um dia. Claro está que ao fazer isso ia perder a magia de viajar por esta estrada e perder muitas atrações e lugares fascinantes. Afinal, não é para isso que também viajamos?
A nossa recomendação é guardar pelo menos dois dias completos para fazer esta estrada. Sair bastante cedo de Belfast e parar em algum lugar para passar a noite, nós pernoitámos em Bushmills. Se tiveres apenas um dia e quiseres ver os lugares com mais destaque, o melhor é optar por uma tour organizada, das muitas que há e que saem de Dublin ou Belfast. Desta forma, poupa também no aluguer do carro.
[…] Irlanda do Norte, um roteiro para visitar o país de carro Por os meus trilhos em 6/10/2019-13:08 do blog Os Meus Trilhos. […]