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Vilarinho da Furna, a aldeia afundada!

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Aqui o progresso matou os pastos, os terrenos de cultivo, a paisagem, a cultura, uma herança de tempos imemoriais, enfim as pessoas morreram com a aldeia. E a troco que quê? De 5$00 o m2. Este foi o preço pago na altura pela empresa de energia nacional. Não importava se tinhas uma casa boa ou má, se os terrenos eram de cultivo ou apenas um amontoado de pedras… a dignidade de uma comunidade, a vida das pessoas foi paga a 5$00 o m2

Vilarinho da Furna era uma pequena aldeia da freguesia de S. João do Campo, situada no extremo nordeste do concelho de Terras de Bouro, distrito de Braga.A sua origem perde-se, foi destruída há vinte e seis anos (21 de Maio de 1972) por uma barragem.

A barragem não só emergiu campos e casas, mas, sobretudo, uma comunidade com uma riqueza cultural valorosa e rara. Como forma de salvaguardar todo o património em causa foi construído pela Câmara Municipal de Terras de Bouro em 1981 o Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna.

Vilarinho tinha as suas leis, os seus hábitos, as suas pessoas, as suas terras o seu gado, a sua organização, o seu modo de vida… Um conjunto único que a transformava numa comunidade ímpar. Mas foi alagada.

E é possível que alguns dos traços da maneira de viver do povo de Vilarinho se filiassem na cultura dos povos pastores e ganadeiros indo-europeus, provavelmente lá introduzidos por migrações pré-romanas e reforçados pelas invasões suevas.

Depois de uma visita ao museu etnográfico, restava apenas saudar essa bela aldeia adormecida à força que jaz agora entre águas profundas.

 

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Pouco resta da antiga aldeia, quando a água da albufeira desce ainda é possível ver os muros, os restos de casas de outrora.

Para chegar às ruínas da antiga aldeia, siga por um caminho que ladeia a albufeira pelo lado esquerdo. O percurso de ida e volta demora cerca de 1 hora.

A noite já se anunciava, o sol escondia-se por entre cumes esguios que rasgavam o céu e o Parque de campismo de Etre-Ambos-Os-Rios estava à espera.

Miguel Torga com a arte e engenho só reconhecidos aos poetas, imortalizou nos seus versos uma morte, ou será uma aldeia morta? Em dias de “água baixa” emerge para nos saudar…

Requiem 

Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavras,
aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um Letes de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento.

 

Miguel Torga – Barragem de Vilarinho da Furna, 18 de Julho de 1976

 

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Somos uma família apaixonada… apaixonada pelo mundo e pelas viagens, sejam elas curtas ou longas. Mas a maior das viagem começou há pouco, quando à equipa se juntou o pequeno Simão. Durante uma parte do ano vestimos as capas de dois burocratas do funcionalismo público, na outra, metemos a mochila às costas, pegamos no Simão, e vamos por aí… ver com outros olhos, conhecer o mundo, conhecendo-nos cada vez mais a nós próprios. Adoramos grandes aventuras por lugares longínquos, mas também gostamos de pegar no carro e andar por aí, sem destino. E porque a viagem não acaba nunca, como dizia Saramago, depois da viagem passamos tudo para aqui: textos, fotos, vivência, enfim… a nossa viagem! Um pouco de tudo num blog que é da Guarda para o mundo! Tudo sobre nós >>>

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