As crónicas de uma viagem fascinante ao Glaciar Perito Moreno, no coração da Patagónia Argentina.



Às 9:30 da manhã, apanhámos o autocarro no terminal de omnibus de El Calafate.
O tempo está chuvoso, ao contrário do que o dia anterior fazia prever. Aqui, na Patagónia, o tempo é imprevisível e, além da chuva miudinha que vai caindo, está um frio que nos gela até os ossos.
São quase duas horas de viagem até ao Parque Nacional Los Glaciares. Vamos tirando umas fotos pela janela do autocarro e aproveitamos para pôr a leitura em dia.
Após curvas e contra curvas apertadas, entre as lengas e os calafates tão característicos desta região austral, lá aparece o bloco de gelo. O famoso Glaciar Perito Moreno aparecia diante de nós.
Ao longe, parece um ponto minúsculo, mas, quando a distância se encurta, facilmente percebemos que estamos perante uma criação gigante da mãe natureza.



Perdemos a oportunidade única de caminhar em cima da massa congelada de anos e anos de acumulação de suaves gotas liquidas que se comprimem. Este é um dos fenómenos naturais que mais impressionantes e ainda mais magníficos tornam a vida neste planeta e que nos motivam a ir sempre mais longe, viajando de mochilas e com uma enorme sede de caminho.
Do que lemos e ouvimos dizer, nada nos preparou para a língua de gelo que se estende a perder de vista. Ao mesmo tempo aumenta a nossa desilusão por não termos conseguido lugar do grupo que irá fazer o Ice Treeking no topo do Glaciar Perito Moreno.
Comprámos, já no local, os bilhetes para o barco que nos aproxima ao bloco de gelo, ficando então o glaciar perito moreno ao alcance de um salto mais arriscado, no perfeito ângulo fotográfico com que os turistas capturam eternamente a beleza do azul imenso.



Dizem que em dias de névoa se realçam as tonalidades azuis do gelo.
Hoje o seu azul magnifico parece que nos quer brindar. Não fora a chuva miudinha que nós faz constante companhia e se entranha para dentro da roupa, tocando-nos a pele, e o espectáculo seria ainda mais encantador.
O barco gira, dá meia volta para nos deixar no cais.






De novo no autocarro tentamos recuperar a temperatura corporal, mas antes que tal aconteça, descemos novamente e enfrentamos agora as passadeiras que serpenteiam o Perito Moreno e nos permitem uma aproximação quase intima com o gelo.
O seu nome é uma homenagem a Francisco Pascasio Moreno, criador da Sociedade Científica Argentina e um famoso explorador da região austral da Argentina.



Daqui de cima podemos vê-lo em toda a sua magnitude. Visto de frente, são 5 km de gelo, que se estendem por mais de 30 km pela cordilheira andina adentro.
Centenas de turista vão desfilando nas “passarelas” olhando encantados o que estende para lá do horizonte, as conversas são interrompidas por mais um desprendimento que ecoa no ar, como se de um trovão se tratasse. Viram-se os pescoços a tempo de ver um bloco tocar a água e fundir-se na imensidão do lago argentino.
Passeamos, de um lado para o outro, mas encarando o glaciar de todos os ângulos, ajeitando a camara entre as gotas de chuva tentamos captar o melhor momento e o nosso sorriso perfeito.









O Glaciar é uma grande e espessa massa de gelo formada em camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada, de várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior ao degelo.
É dotada de movimento e se desloca lentamente, em razão da gravidade, relevo abaixo, provocando erosão e sedimentação glacial. Dizem que se pode deslocar cerca de 2 metros por dia… incrível, não acham?
Igualmente incrível é o facto de esta massa de gelo, o glaciar Perito Moreno, ser a terceira maior reserva de água doce do mundo. Conta-se por aqui que se derretesse, os oceanos subiriam de tal forma que a cidade de Atenas seria submersa.
O glaciar Perito Moreno nasceu para ser uma estrela. Estrategicamente posicionado em frente à Península de Magalhães permite-nos uma perspectiva fantástica de toda a sua magnitude.
Com uma frente de 5 km e uma parede de gelo que se ergue a mais de 60 metros acima do nível da água do lago Argentino, o Perito Moreno, além de ser um dos mais famosos glaciares é também dos pouco que se pode considerar estável e que não tem sentido os efeitos das alterações climáticas.


