Percebo agora o fascínio de muitos pela Livraria Lello. Quando se entra, assim de mansinho, sente-se o cheiro a livros, e por aqui há muitos, muitos mesmo. A luz é ténue, só uns raios de luz fusca a entrar pelas janelas. O cheiro bom a livros desvanece-se quando, diante dos olhos se abre um hino ao romantismo, ao bom gosto e à magnificência do Séc.XI: a escadaria que leva ao andar superior da livraria.
Ao mesmo tempo que elevo a vista para a escadaria de tons avermelhados, reparo nos rendilhados que se propagam pelos tectos. Madeira cuidadosamente talhada, por um qualquer artesão com poderes divinos, só pode.



O carácter revolucionário do Porto têm-lhe valido a reputação de “liberal”, de defensor dos ideias democráticas e dos direitos humanos. Por isso não me espanta que seja nesta cidade que encontramos, e digo-o sem qualquer dúvida, uma das livrarias mais bonitas do mundo.
Renasço desta letargia, com o constante o corrupio de gente que entra e sai. Quase todos são turistas, quase ninguém compra… Vêm ver esta maravilha da arquitectura art nouveau! A escada bordeaux em caracol é o ex libris deste diamante meticulosamente lapidado. Serpenteia pelo ar, de um lado e do outro. Leva-nos para o segundo andar, mas acima de tudo, leva-nos para um mundo romântico que se preserva aqui, na rua das Carmelitas, n.º 144.
Circulo pelo corredores superiores. À esquerda e à direita, distinguem-se os bustos de distintos homens de letras: Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Tomás Ribeiro, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro.



Enquanto folheio um livro, reparo nos japoneses com olhar intrigado. Olham, sobem as escadas e, tão rápido como as sobem, também as descem. Não ficam muito tempo, talvez este sentimento lhes diga pouco. Tão pouco tiram fotos. Surpresa, ou talvez não! Quando viro o olhar, percebo a razão da visita supersónica dos japoneses… é proibido tirar fotografias.
Fico um pouco desiludido, mas talvez seja melhor assim. A fama desta livraria ultrapassou fronteiras a ponto de ter sido considerada por vários como uma das livrarias mais bonitas do mundo. Esta fama tem trazido gente de todos os cantos do mundo. Mas o constante entra e sai de turistas tem trazido alguns problemas aos proprietários que vêem a braços que uma degradação acelerada desta jóia.
Recordo-me que recentemente a comunicação social adiantou que os proprietários da livraria ponderavam introduzir pagamento de entrada. Quando ouvi pela primeira vez a notícia, os meus sentimentos foram contraditórios. Hoje, depois de ver o corrupio e a confusão gerada pelo entra e sai de turistas na livraria, não posso de deixar de estar ao lado dos proprietários!



Um pouco de História da Livraria Lello
No dia 13 de Janeiro de 1906 inaugurava, no Porto, a Livraria Lello, causando grande impacto no meio cultural da época. Tratava-se, no entanto, de um espaço de tradição livreira, uma vez que já aí tinha sido fundada a Livraria Chardron em 1869. No período que decorre entre esta data e a inauguração da Livraria Lello, o edifício conheceu outros proprietários, tendo sido vendido em 1894 a José Pinto de Sousa Lello, que se dedicava ao comércio e importação de livros, possuindo já uma outra livraria na cidade, em sociedade com o seu cunhado David Lourenço Pereira.
Por morte deste último, José Pinto de Sousa Lello constituiu sociedade com o seu irmão António Lello, passando a livraria a designar-se Lello & Irmão, Lda.
O edifício, de carácter ecléctico, com fachada neogótica, foi concebido segundo projecto do engenheiro Xavier Esteves, destacando-se fortemente na paisagem urbana envolvente.



Mais informação
- Localização: Rua das Carmelitas, n.º 144
- Entrada tem um custo de 3 euros, sendo o valor dedutível na compra de livros.
- A livraria Lello foi Classificado como Monumento de Interesse Público em setembro de 2013
- Percorra a Livraria Lello através uma foto em 360º
Grande Artigo sobre a livraria Lello, vou já partilhar 😉 so tenho um reparo : acho que quis dizer “art nouveau” quando escreveu #art neuvau!
Olá Tiago,
Obrigado pelo simpático comentário, pela visita e pelo alerta. Já está corrigido. Lapso da minha parte.
Um abraço,
Sérgio
Magnifico lugar literário. Um rico patrimônio da cultura portuguesa. As historias do passado são as sementes do futuro.