


Mal ponho os pés em Mogador, sinto uma lufada de ar oceânico a lamber-me a cara. O vento forte tornou esta praia num dos lugares preferidos para os amantes das ondas e do kyte surf. Há quem chame Essaouira a Meca dos Hippies. Esta é terra de pintores, de liberdade… Para mim, em primeiro lugar, é mais um dos sinais da presença Portuguesa no Norte de África. Não quero com isto dizer que vivo um qualquer sentimento saudosista dessa epopeia quinhentista, nem, de igual forma, justificar as atrocidades que, a mote dos descobrimentos, se foram cometendo mundo fora.



Gosto de pensar nessa época como uma época de aventura e de sentimentos. Gosto de imaginar a forma como “conquistámos” a Ásia, com amámos África e como explorámos as Américas. Gosto de imaginar as formas raras e inventivas de comunicação. Que raio, como será que eles se entendiam, sem que falassem a mesma língua, sem que o Inglês pudesse ser a sua ponte?
Ainda é cedo, vamos procurar um local para passar as duas últimas noites, em África.
Olho para este castelo de pedra. Como éramos exímios na arte da defesa. Tantos anos de guerras com os castelhanos apurou-nos o engenho e a arte.
Em 1506, sob as ordens de Diogo de Azambuja, na altura com 70 anos de idade, os portugueses estabeleceram-se aqui e lançaram as primeiras pedras desta muralha imensa, Castelo Real de Mogador. Este pequeno porto teve um papel importantíssimo na protecção das rotas na costa africana, principalmente depois dos portugueses se estabelecerem em Agadir e comercializarem frequentemente com Safi.
Quase nada resta da antiga muralha, apenas a recordação e o nome Mogador a ecoar por entre as ondas agitadas de Essaouira.












Essaouira é terra de pescadores. O porto é a sua praia. Abandonamos o porto, sacudindo o cheiro intenso que se cola à pele. Hoje está um dia agradável, freco, com vento, mas agradável.
Não temos grandes planos: vaguear pela praia, pela medina, ver o pôr-do-sol… enfim, como dizem os italianos, “dolce fare niente”.



Circulando a baía, desde a imponente Porte de La Marine, podemos caminhar uns quilómetros ao longo da praia. Assim fizemos. Acompanhámos, ao longe, os preparativos dos KyteSufistas, a engenhosa entrada na água e a agilidade com que manobram o papagaio que descola em direcção ao céus. Aqui esta, digo para os meus botões, um desporto que gostava de experimentar…






Chamam a esta cidade, cidade do vento e da luz, que jaz intocada presa a terra, no mar oceânico feroz. Hoje o sol está forte, promete um luz quente ao fim da tarde. Há muito vento também.
Ao longo da praia somos constantemente abordados por marroquinos que tentam negociar: passeios a cavalo, de dromedário, quads, etc… limitamos-nos a calcar pachorrentamente a areia, até que perdemos Essaouira de vista. Deitado nas dunas com o sol a bater na cara e a areia a arranhar a pele, puxada pelo vento, consigo sentir porque tantos se apaixonaram por este pedaço… Jymmy Hendrix, Bob Marley, Orson Wells, etc.
A tarde passou-se a deambular pelos souks, entre óleo de argão, caixas de tuia (uma espécie de cedro), especiarias e muitas traquitanas marroquinas.



As previsões confirmaram-se, está uma luz espectacular. Como muitas dezenas de marroquino, também eu assomo à Pl. Moulay El Hassan. Deixo-me ficar ali, durante algumas dezenas de minutos.



Escolho o ângulo e fotografo. Observo a gente que passa, velhos e novos. Encosto-me à muralha, vendo passar o tempo… o tempo é assim em Mogador, olhando o mar, o infinito. Aqui, há centenas de anos, muitos olharam o mar, outros, poucos, ousaram desafiá-lo, mas nenhum o venceu…






Localização:
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Como Chegar:
Mogador é uma cidade pequena, junto à costa e facilmente acessível. A melhor forma, para quem vem de Marraquexe é de autocarro, uma vez que não existe linha de comboios. Na estação de Bab Doukkala existem inúmeras companhias que viajam regularmente para Essaouria. A mais confiável, no entanto, é a CTM. A viagem demora cerca de 2,5h e custa cerca de 7€.
Saiba que, desde Casablanca, de autocarro, são aproximadamente 6 horas.
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