


Sento-me à mesa do restaurante “De Lisbon” e vejo que anunciam em bom inglês “traditional malaysian portuguese food”. Não procuro comida, procuro a língua, esse modo diferente de falar português, quase perdido nos tempos e nas gerações… quero contrariar as evidências e encontrar a língua dos descendentes daqueles que há 500 anos repousaram no Estreito de Malaca.
Peço uma cerveja. O Sr. Pedro da Silva cumprimenta-me, traz-me a cerveja e alguns dedos de conversa. Fala Português, ou o que resta dele! Alguns amigos, que já tinham andado por estes lados, avisaram-me que Malaca era uma desilusão, que não havia ninguém a falar português. Ou eles foram a uma Malaca distinta da minha ou eu tive muita sorte. Fico-me pela primeira opção, já que, segundo o Sr. Pedro, a comunidade de falantes de português em Malaca ainda é considerável.
Conferencia-me que o seu grande desejo era poder conhecer Portugal. Queria sentir o cheiro do manjerico e dos santos populares, das vindimas e das romarias, e sentir a maresia numa lufada de ar fresco.
À volta da mesa relembra os tempos agitados que antecedem a vinda do navio Navio Escola Sagres à Malásia. Com ele chegam as sardinhas, o bacalhau, o “fumo” (tabaco), mas acima de tudo a língua, essa que o Sr. Pedro nunca esqueceu…
Queria uma escola para os netos aprenderem a língua de Camões (tão maltratada por quem tem o dever de zelar por ela), queria missa ao domingo em português, queria que se lembrassem que aqui, a 12 mil km de Portugal, entre as cores garridas do oriente, ainda há gente que do Estreito de Malaca grita pró mundo: EU SOU PORTUGUÉS!


