17 de Julho
Visto de cima, o Cambodja tem tons prateados. O país está completamente alagado, estamos no auge da época das Chuvas. Com as chuvas vem também o calor, o arroz e a abundância. O Cambodja transforma-se num celeiro!
A noite passada no aeroporto de KL fez das suas, deixou-nos sinais profundos no rosto, as costas curvas e o corpo dormente. Mas o espírito, esse, continua desperto, sedento de aventura, desejoso por desbravar caminho por esse quase esquecido império Khmer.
Os braços do Mekong estão por todo lado, mas aqui reina o lago Tonlé Sap “the worl’s biggest fish bowl”.
No aeroporto de Siem Reap, a cidade que serve de campo-base à exploração de Angkor, trata-se dos vistos, tem-se a primeira impressão do Cambodja e troca-se dinheiro! Se tiveres dólares estás safo, o riel cambojano ocupa um plano secundário!
Como em quase toda a Ásia, motorista de tuk-tuk que se preze ganha à comissão, isto é, leva os passageiros a determinado hotel e cobra… No entanto, como viríamos a verificar, este estratagema, que mais não é do que pôr em prática os mais básicos instintos de sobrevivência, estende-se por toda a parte, os seus tentáculos são gigantescos. Taréfas básicas como ir ao restaurante, comprar um bilhete de autocarro ou até fazer um visto, estão sob a alçada destas artimanhas, num país em que conseguir fazer dois ou três dólares significa assegurar o salário diário!
Os próximos dias estão reservados à exploração dessa mega cidade que foi Angkor. Do tamanho da cidade de Londres, estende-se por entre as entranhas da selva cambojana, convivendo com locais, macacos, elefantes e outras espécies raras. Construída pelo império Khmer há cerca de 1000 anos e apelidada como a primeira grande metrópole, Angkor foi abandonada subitamente no séc. XV, perdida na selva, continua a suscitar mistérios, especulações e a acalentar os espíritos irrequietos dos arqueólogos.



Angkor, em Khmer, significa “cidade”. Mas será justo reduzir a imponência destes templos, erguidos pela força humana, forjados a suor e lágrimas, a uma mera e vulgar palavra “cidade”. Não! Angkor é mais do que isso, é o símbolo de um povo, a identidade de uma nação, o orgulho de um dos países mais pobres do mundo, a beleza de algo grande que até na bandeira, azul e vermelha do Cambodja, figura!
Benedetto Croce, esse grande filósofo italiano, disse um dia que “não há poesia sem um complexo de imagens, e um sentimento que o anima”… Angkor é assim! Não é “palavra”! É um sentimento!












Regresso a Siem Riep e reparo como foi longo o dia! Desconcertante, de tal forma que não sei qual dos sentimentos me domina por dentro. Se a pobreza e o abandono a que grande parte das crianças estão deitadas, se a magnificência de templos que pareciam erguer-se da terra, não por força humana, mas por qualquer acto divino.
Releio lentamente a carta que Sary, uma das meninas que vende postais e outras coisas tais à entrada de Angkor Wat, me escreveu… penso no seu sorrido, imagino o seu futuro.



Adormeço, mais pelo cansaço que pela tranquilidade de espírito!
[…] O império esquecido dos Khmer – Angkor (Cambodja) […]