


O sol começava a fraquejar, os tons dourados iam-se desbotando, num amarelo pálido. Em Roma, o dia aproximava-se do fim!
Sentado nos bancos da Chiesa di Santa Maria delle Piante, mais conhecida pela Igreja “Domine Quo Vadis”, pergunto-me a mim mesmo: quo vadis?
Não sei onde vou, mas o destino, é verdade, pouco me interessa…
Relembro a história que dá nome e sentido a este lugar! S. Pedro, miraculosamente, liberta-se das correntes que o agrilhoavam na prisão Mamertina e escapa. Reza a história que S. Pedro terá convertido os prisioneiros e, inclusive, os guardas da prisão, que o terão ajudado a fugir.
Fora da prisão, S. Pedro dirige-se a toda a pressa para fora da cidade, através da Via Appia. Tenta, como pode, escapar à malfadada perseguição que Nero empreendia contra os cristãos. Abandona a cidade e ao chegar aos seus limites, encontra com Jesus.
Surpreendido, S. Pedro pergunta: – Quo Vadis, Domine? (Onde vais, Senhor?)
Jesus, tentado encorajar S. Pedro, responde enigmaticamente: – Eo Romam iterum crucifigi (Vou para Roma para ser crucificado outra vez)
Bem, já sinto saudades de Roma, não da Roma que conheci, mas daquele que me faltou conhecer e que conhecerei um dia. Por agora, hoje é o último.
Catacombe di San Callisto
Mas agora desço em direcção a 2000 anos de história, a 30 mts de profundidade… estou no Sec. II d.C. Toco nas paredes do subsolo das Catacombe di San Callisto e sinto o toque rugoso da pozolana, uma espécie de rocha vulcânica e porosa, fácil de escavar e bastante resistente. Ao percorrer as várias galerias somos transportados para uma outra dimensão.
As catacumbas de São Calisto, famosas por conterem a Cripta dos Papas, onde foram enterrados os primeiros Papas da Igreja Católica, estendem-se por mais de 15 hectares e a rede de galerias, em 3 níveis, tem mais de 20 km e calcula-se que mais de 20mil pessoas tivessem sido aqui enterradas.
Descobri que, ao contrário do que os filmes mostram, as catacumbas não serviram para os cristãos se esconderem dos romanos, mas tão só para enterrarem os seus mortos e eventualmente celebrarem as primeiras missas. Mais informações, aqui: http://www.catacombe.roma.it/es/dettaglio.html



Via Appia
Tínhamos vindo de autocarro até à Via Appia, mas agora decidimos desce-la a pé, até à Igreja Domine Quo Vadis.
Enquanto pé-ante-pé calcorreávamos esta antiga via romana, imaginámos os galopes apreçados dos centuriões, as carruagens apinhadas de haveres para abastecer a cidade e os campos, a perder de vista, prenhes de trigo, ondulando pachorrentamente sob o sol da tarde.
A Via Appia foi, em tempos, a mais importante estrada romana e chegou mesmo a ser apelidada de Regina Viarum (a rainha das estradas). Mas esta via há-de ficar para a História, também pelos eventos que ocorreram ao longo dos seus muitos kms.
Entre os mais famosos encontra-se a crucifixão de Spartacus e o seu exército.
No final da revolta liderada pelo ex-Gladiador Spartacus, de Cápua, e tendo o seu exército sido derrotado pelas legiões Romanas, foram os revoltosos condenados à morte por crucifixão. Em 71 b.C. 6 mil escravos, os envolvidos na recolta, também conhecida pela terceira guerra civil, foram crucificados ao longo de 200 km da Via Appia.



Agora sim, deixo a Via Appia regresso ao centro de Roma para um gelado e mais um olhar, o derradeiro, sobre a cidade. Atravesso a Piazza Santa Maria del Popolo, enquanto fixo o grande obelisco que se ergue no centro.
Ao seu lado, amontoam-se os transeuntes. Um jovem imita Michel Jackson os espectadores aplaudem o deslizar suave dos seus pés sobre a calçada.
As lojas já começam a fechar e as ruas enchem-se de gente que passeia, que conversa, que vive.



Sentam-se numa piazza e vêem a vida passar, bebericam um capuchino, “empanturra-se” de gelados… enfim, assim é um modo de vida, o “dolce fare niente”.
E como em Roma, sê romano, também eu sigo a corrente !!!!