Por onde quer que andemos já nos habituámos a ser bem recebidos. É inegável que a simpatia dos portugueses é contagiante.
Ainda que a Vila de Murça fosse já nossa conhecida e, diga-se, por várias vezes visitada, muito nos agradou a disponibilidade e a genuína atenção com que fomos recebidos nesta vila de Trás-os-Montes. Neste roteiro vamos partilhar em fotos a hospitalidade transmontana, em letras a simpatia com que nos receberam, alimentando sempre a vontade de regressar.
São oito séculos de história divididos entre a terra fria, a terra quente e a terra transmontana. É nesta mistura de identidades que nasce Murça, conhecida pelo azeite, vinho e pelas “curvas de Murça”. E para começar a explorar Murça, nada melhor que uma breve caminhada pela Estrada Romana até à imponente Ponte também ela deixada pelos romanos. Unindo as margens do Rio Tinhela a ponte ergue-se perante o passar dos anos. Ainda que o passar do tempo a tenha condenado ao esvaziamento da sua utilidade, outrora ligando Braga a Astorga e posteriormente servindo de caminho às gentes de Murça, é hoje um monumento de interesse público que coroa o período romano e a sua perenidade até aos nossos dias.
O troço da via romana ainda se pode percorrer com a calma solarenga a que um dia de feriado nos convida, aproveitamos para apreciar os primeiros sinais da primavera e imaginar o bulício de outros dias, como o som dos cascos dos animais a pisar os trilhos.
Se depois da caminhada se sente cansado e precisa de recuperar forças prove o toucinho do céu que é a especialidade desta terra de gente que nos conquista também pelo paladar. Acompanhe com um belo café, enquanto aproveita para aprender algo sobre a lenda Porca de Murça que na praça central da vila segue atenta os passos dos turistas e faz pose a cada foto tirada, indiferente à polémica, pois se para uns é uma porca, para outros é uma ursa…
Nós não temos a resposta para dar, embora saibamos que aquele bloco de granítico carrega em si uma história secular que muito ainda nos pode ensinar.
A visita continua e vamos agora descobrir um dos néctares que nesta terra brota e dirigimo-nos à Adega Cooperativa da Vila de Murça, onde a visita nos leva à descoberta da história do que melhor aqui se faz. Do vinho do douro ao vinho do Porto, passando pelo espumante, a rotina da vila segue a época das colheitas e rege-se pela maturidade dos cachos que exportam agora para todo o mundo, e realçam o sabor da comida típica transmontana. Constituída na década de 60, ainda hoje recebe as uvas dos associados que transforma em vinho e que durante todo o ano garantindo trabalho a 20 pessoas, garante também que Murça esteja presente nas melhores mesas.
A visita não estaria completa se não fossemos saber um pouco mais de um outro líquido que no início do inverno corre em torrente pelos mecanismos da Cooperativa dos Olivicultores de Murça, que por esta época, estando a “meio gás” vai engarrafando o melhor dos azeites que saudavelmente vai enriquecer a gastronomia. A cooperativa labora desde 1956 e se muitas inovações foram marcando o seu percurso, o verdejante azeite continua a escorrer pelos galheteiros com a qualidade de sempre e com Denominação de Origem Protegida. Produz já azeite biológico, provando que a adaptação aos tempos modernos se vem fazendo.
Entre o azeite e o vinho o nosso coração fica divido e para evitar ataques futuros de saudosismos o melhor é trazer na bagagem os dois, em doses generosas para ir matando as saudades.
Caso tenha coragem percorra ainda as curvas de Murça, mas lembre-se de respeitar a velocidade que as provas de automobilismo ficam para outra altura. Ou opte por as vislumbrar do miradouro enquanto imagina os carros a alta velocidade “estrada a baixo” entregues ao zig zag da adrenalina.
Se for Verão e quiser refrescar-se, não há que perder a praia fluvial de Rebelos. Banhada pelo rio Tinhela, é um óptimo lugar para um mergulho ou um piquenique aproveitando a sombra das frondosas árvores que ladeiam as margens do rio que vai desembocar no Tua.
Se não lhe faltarem as forças, um caminho de 2km leva-o pelas margens do Rio Tinhela, desde a praia de Rebelos até à ponte Romana de que falámos mais acima.
O final do dia cairá nesta terra, mas para o observar visite o Morro de S. Domingos, alvo de uma recente requalificação. As vistas sobre a vila e toda a paisagem circundante encantam os visitantes. A subida até lá cima é premiada com fotografias que espelham as melhores vistas que se podem ter de Murça.
Com pena nossa não conseguimos visitar o Castro de Palheiros e o seu moderno centro interpretativo tão bem encaixado no Parque Natural do Vale do Tua, mas se assim não fosse não teríamos uma desculpa para regressar brevemente…
Até lá vamos ver o filme do Soldado Milhões e da sua heróica história, para voltarmos com o contexto necessário para entender mais sobre esta terra de encantos e lendas.
Dicas para visitar a Vila de Murça
- Gastronomia: existem diversos restaurantes que servem comida tradicional acompanhada pelos bons vinhos da região, dois dos mais famosos são o Restaurante Miradouro (nas curvas de Murça)e o Restaurante Terra Quente (à entrada da Vila com umas excelente vistas). Para vegetarianos, as opções são duas pizzarias existentes na vila, a Pizzaria Pasta Fina e a Pizzaria ANITA. Não sai de Murça sem provar toucinho do céu acompanhado de um bom queijo.
- Alojamento: Existem diversas opções de alojamento na Vila de Murça, procure no Booking aquele que mais se adapta. Se for mais conveniente Vila Real também têm diversas opções e fica a escassos 15 min. de caminho.
- Para visitar a Adega Cooperativa de Murça e da Cooperativa dos Olivicultores deve estabelecer um contacto prévio.
- Para visitar o Castro de Palheiros informe-se junto do posto de turismo situado na Alameda 8 de Maio, em Murça (tel. 259510139)