O mundo é um lugar maravilhoso. Quanto mais viajamos, mais fascinados ficamos com a diversidade e com a magia que povoa o nosso planeta. Já noutro post falámos de um lugar que parece não existir, um lugar onde tudo transpira sal. Um lugar de tão inóspito e selvagem que nos arrebata e cativa à primeira vista:o Salar de Uyuni. (ler o post completo sobre o sal e o Salar)
Mas quando se fala em tour no Salar de Uyuni, falamos numa área mais vasta que vai até ao extremo da Bolívia, mesmo encostado ao Chile e ao Deserto do Atacama.
Este post é sobre isso mesmo, sobre o que podemos visitar a partir de Uyuni, na Bolívia. O ideal é contratar um tour, com um jipe e guias especializados. Há tours para todos os gostos e conforme disponibilidade de dias. O ideal é fazer, pelo menos, o tour de 3 dias, que alé d eser o mais comum e o mais completo. Por regra, os tours começam e terminam em Uyuni. Contudo, é possível terminar o tour na fronteira com o Chile, perto do deserto do Atacama. Assim, podemos continuar viagem para o Chile. Mais abaixo falaremos desta possibilidade e muitas outras dicas, ler até ao fim 🙂
Chegámos a Uyuni no autocarro noturno que vinha de La Paz. Foi aqui, ainda em la Paz que contratámos o tour. Por isso, quando chegámos já havia alguém à nossa espera. Fomos à agência, deixámos as malas e fomos tomar o pequeno almoço.
Uma horita depois, com as mochilas acondicionadas no Land Rover, bem abastecidos de água e bolachas, lá partimos nós.
Então vamos lá, serão 3 dias no Salar de Uyuni, estão prontos?
1º dia
1 – Cemitério de Comboios
Estamos no meio do deserto, aqui a paisagem é árida e nada amigável. O cenário é de filme do far west, quando paramos num cemitério de comboios. Usados do final do século XIX até a grande depressão de 1930, serviam para transportar os minerais de que é rica a região até o porto de Antofagasta. Bolívia perdeu Antofagasta, o seu acesso ao mar, para o Chile. Com a perda desta saída para o mar, os comboios bolivianos deram o seu último suspiro e aqui ficaram.
2 – Salar de Uyuni
O sol continua maravilhoso, mas está um frio de rachar. o Jipe deixa um rasto de poeira atrás de si e em poucos quilómetros, estávamos já a entrar no Salar de Uyuni, na Bolívia.
A 3.656 metros acima do nível médio do mar e com 10 mil quilómetros quadrados, o Salar de Uyuni é a maior planície de sal do mundo.
Este lugar é daqueles em que o branco fere a vista, de tão bonito que é…
Para saber mais sobre o Salar de Unyuni, vejam o post que fizemos sobre este lugar maravilhoso.
A transformação de grandes lagos pré-históricos deram origem ao Salar. Com a evaporação dos lagos, ficou apenas o sal que deu lugar este cenário magnífico.
3 – Isla Incahuasi (Isla Pescado)
Depois de almoço, rumámos ao coração do salar. Há por aqui uma “ilha”, que os povos quechua chamaram de “Isla Incahuasi” (a casa dos incas) que possui um ecossistema interessante.
Apesar do seu aspeto hostil, onde há cactos gigantes que chegam quase a 20 metros, há por lá roedores e pássaros. Pois claro, bem adaptados a estas terras agrestes.
4 – Hotel de Sal
2º dia
1 – San Juan (Aldeia)
Saímos pela manhã, mal o sol rompia. Estava um ar gelado, mas a isso já nos vamos habituando. Parámos numa das únicas aldeias na orla do Salar de Uyuni. Vagueámos um pouco pela aldeia enquanto esperávamos por outro jipe que se havia atrasado… e muito! A aldeia estava deserta, os cactos gigantes que se espalham entre as casas dão-lhe um ar fantasmagórico, daqueles se se tiram de filmes.
2 – Salar de Chiguana
3 – Deserto de Lipez
O deserto de Lipez, no extremo sul da Bolivia é um lugar inóspito, como tantos outros por estes lados. É selvagem e praticamente desabitado. As altitudes mantêm-se sempre acima dos 4.000 metros.
4 – Vulcão Ollague
O dia já ia a meio e nós com dezenas de km já percorridos por entres salares, desertos e caminhos onde pouco mais se via além de pó.
Paramos para o almoço num excelente “restaurante panorâmico”, com vistas privilegiadas para o pico do vulcão Ollague, único vulcão ativo da Bolívia.
5 -Laguna Hedionda
A Laguna Hedionda apareceu assim de repente, depois de uma curva mais apertada em que o Land Rover nem estremeceu. A brancura imensa e uma réstia de água límpida contrastavam com o acastanhado do horizonte. Ao fundo, contudo erguia-se imponente o conjunto de montanhas que separa a Bolívia do Chile.
A Laguna Hedionda é uma lagoa alto-andina situada dentro da Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Abaroa, no sudoeste de Bolivia.
Não é difícil adivinhar donde lhe vem o nome, não é? O cheiro a ovo podre do gás sulfúrico que ela exala da lagoa entra-nos pelas narinas e parece que se agarra à roupa.
6 -Arbol de Piedra
Parece que estamos em Marte, ou em algum planeta longínquo perdido no extenso universo. Mas não, continuamos na Bolívia e agora atravessamos o Desierto de Siloli. Uma árvore de pedra sai das profundezas da terra e ergue-se, desafiando as leis da gravidade. Durante milhões e mnilhões de anos, o vento e a natureza esculpiram na rocha, fizeram arte e transformaram uma rocha numa árvore de 5 metros, que agora é monumento natural.
7 – Laguna Colorada
A Laguna Colorado foi o último spot deste 2º intenso dia no planalto boliviano. Chegámos à Laguna Colorada já ao pôr do sol, por isso as águas já não estão tão vermelhas como costumam estar.. Mesmo assim, apanhamos milhares de flamingos, bem alegres, a comer à beira da lagoa. É uma imagem maravilhosa.
Passámos bem mais de uma hora vagueando à volta do lado, fotografando os flamingos, escutando o vento andino, ou, ficando ali, só a olhar!
De acordo com o Jimmy, o nosso cobiçado guia, a cor avermelhada da lagoa deve-se aos sedimentos depositados por uma espécie de alga. Contou-nos também que os flamingos ao se alimentarem nestas aguas vão também eles adquirindo um tom avermelhado, já que quando nascem são acinzentados (e não é que é mesmo verdade!).
Veja fotos incríveis das lagos do altiplano no Post que escrevemos só para elas.
3º dia
1 – Geiser Sol de Manana
Este é o terceiro dia do tour e o mais frio! Começámos a manhã (ou melhor, a madrugada, sim porque são 4:30 da manhã) com 14 graus abaixo zero. Subimos até ao ponto mais alto destes nossos três dias. Estamos acima dos 4850 metros de altitude.
O jipe parece que já conhece os trilhos que nos levam montanha acima, por entre pó desértico e neve acumulada das noites anteriores. O Sol ainda não rompeu no horizonte, mas já mostra as cores azuladas. Paramos no famoso Geiser “Sol de Mañana”, que expelo baforadas fortes de um vapor com um cheiro a ovos podres… bufff! Parecemos umas crianças a saltar à fogueira…
2 – Fumarolas
Uns metros à frente, o sol começa a romper no horizonte, nós acima dos 4850 metros de altitude, as temperaturas mais frias que eu já sentimos… e uma visão maravilhosa!
As águas são aquecidas pelos vulcões, entra em ebulição e borbulha. Pela manhã, com o frio, o vapor de água eleva-se criando um efeito extraordinário. As bermas das crateras estão completamente geladas, enquanto que a água borbulha com as altas temperaturas.
3 – Banho nas lagoas de águas termais
Acordar, saltar por cima de geisers, andar no meio de fumarolas, suportar 14 gruas negativos e agora, antes do pequeno almoço, refastelamo-nos nas águas quentes das montanhas. As águas estão a quase 40º, enquanto que cá fora não hão de estar mais de zero graus centígrados. As instalações são precárias, mas podíamos esperar mais do que isto num dos lugares mais inóspitos do planeta e a quase 4 mil metros de altitude.
Paga-se 5 bolivianos para poder usufruir deste quentinho durante uns momento. As águas vêm diretamente da montanha e a ela regressam depois de nos aquecerem o corpinho!
4 – Laguna Verde
Quando chegámos à Laguna Verde sabíamos que a viagem pelos desertos de sal e lagoas do altiplano boliviano estava a terminar. Sabíamos que dentro de alguns kms estaríamos a cruzar a fronteira para o Chile. Do outro lado esperar-nos-ia um dos desertos mais secos do planeta e as suas paisagens que mais parecem tiradas de um qualquer planeta distante.
Paramos o jipe cá no topo e, de chofre, saímos todos boquiabertos. É imenso! Saímos, ajeitando os casacos, gorros e luvas.
A Laguna Verde com o vulcão Licancabur como pano de fundo, e os seus 5920m de altitude.
Dicas para viajar até ao Salar de Uyuni
Mapa com o percurso
Conforme já tínhamos referido, por regra os Tour começam e terminam em Uyuni. Ainda assim, é possível ficar na fronteira com o Chile e de lá apanhar o transfer para San Pedro do Atacama, poupando assim a viagem de Uyuni até Atacama. Também é possível fazer o tour a a partir de San Pedro do Atacama, mas como os preços serão feitos por chilenos, espere pagar bem mais. Por isso, se puder organize a sua viagem por forma a fazer o tour a a partir de Uyuni.
Quanto Custa o Tour no Salar de Uyuni?
De certeza que vai ouvir falar de muitos preços. Contudo, para ou tour normais de 3 dias os preços rondam os 110/120usd. Podem ser ligeiramente mais caros se incluírem o transfer para atacama ou banhos quentes. Desconfie se alguém lhe diz que consegue mais barato do que isso. Depois, os preços das agências que constam do Lonely Planet estão deveras inflacionados e nem sempre os preços correspondem à qualidade do serviço.
Como escolher um operador? Bem, aqui começa a aventura. Há dezenas de operadores em Uyuni. Há os bons e caros, há os razoáveis e preços razoáveis e há maus, muito maus. É inevitável não ler e ouvir histórias sobre tour que correram mal, de acidentes com jipes porque o motorista ia bêbado, porque a comida não prestava, porque não havia água, enfim… milhares de coisas. Não dizemos que não deve procurar aquela empresa que lhe oferecer mais confiança, mas relaxe, não fique obcecado com isso e aproveite a viagem. Atenção Às operadoras que vêm no Lonely Planet, podem ser razoáveis, mas os preços estão um pouco inflacionados e são bastante concorridas.
O que levar?
Em primeiro, levar muita água. Pelo menos 1,5 litros por pessoa por dia. Não há muitos lugares onde comprar água durante os três dias, por isso vale mais ir prevenido (a água pode ser comprada uns minutos antes, na cidade de Uyuni)
Não esquecer os óculos escuros, protetor solar e roupas quentes são indispensáveis para visitar o Salar de Uyuni. O sol que se reflete no sal pode causar queimaduras e danos à visão. Não se deixe enganas pelo sol forte, à noite faz muito, muito frio. Nós apanhámos 14 graus negativos na segunda noite.
Apesar do frio, passaremos por águas termais, por isso não esquecer o fato de banho!
Papel higiénico e dinheiro em bolivianos. Além de haver dois ou três sítios que é necessário pagar e não está incluído no tour, convém ter dinheiro para alguma emergência.
Como é o alojamento e alimentação?
O alojamento é bastante precário, afinal estaremos bastante afastados da civilização. Normalmente o alojamento é em “hoteis”, que são na prática umas casa construídas de blocos de sal, com camas de sal, e mesas, adivinhem, de sal! A electricidade é contada assim como os banhos. Na segunda noite poderá nem sequer haver electricidade.



A alimentação por regras está incluída no preço. Não espere grandes banquetes, mas nós tivemos muita sorte. O nosso guia tratou-nos de forma exemplar e além de muito simpático, era um óptimo “anfitrião”. Se for vegetariano, é importante avisar com antecedência.
Quando Ir?
Não há uma “melhor época para visitar Uyuni”. Tudo depende do que se pretende. Durante a época das chuvas, de janeiro a março, de certeza que vais apanhar com chuva, mas podes ter o impressionante espelho de água no salar (justo google it, é fantástico). Depois, do final de março, com sorte ainda pode haver alguma água no salar. Em maio começa o inverso e a altura mais seca, com temperaturas que rondam os 20 graus negativos, sendo que em agosto e o pico do inverno. Nós, por razões profissionais, tivemos de ir em setembro. Não apanhámos o espelho de água, mas havemos de lá voltar.
Bem, Ok! Vai ser duro? Sim. Vamos passa frio? Sim, muito. Vamos encher-nos de pó e não ter água para tomar banho? Sim! Mas afinal, viemos de tão longe para quê, não vais desistir agora, não é?