Quando começamos a programar esta viagem pela cordilheira andina, um conjunto de conceitos e palavras começaram a entrar no nosso léxico. Uma delas foi “altiplano”.
Se outrora esta palavra pouco ou nada nos dizia, hoje ela transporta-nos para um mundo onde a natureza convive solitária com ela própria. Onde a mão do homem ainda não destruiu, ou melhor, onde a natureza teima em resistir.
Para nós “altiplano” é sinónimo de noites geladas e ventos ciclónicos. “Altiplano” é solidão e também encontro. “Altiplano” são milhares de kms em cima de um deserto de sal e nuvens de pó denso que deixa o jipe. Altiplano, para nós, são também lagoas magníficas. E é dessas lagoas que agora vos vamos falar.




A Laguna Hedionda, na Bolívia, situa-se a mais de 4 mil metros de altitude e está ladeada por diversas montanhas de cumes nevados.
Mas antes de irmos às lagoas, não seria justo avançar sem que deixássemos a ciência falar um pouco sobre o “altiplano”.
O altiplano, neste caso o bolíviano, é um planalto que se ergue na parte centro-sul da Cordilheira andina, com altitude média acima de 3.000 metros. A oeste o Altiplano é limitado pela Cordilheira Ocidental, composta por uma série de vulcões e a leste pela Cordilheira Oriental, um cinturão de rochas dobradas e falhadas.
Voltamos ao que aqui nos trouxe. As lagoas altiplanicas, quer do lado boliviano, quer do lado chileno, no deserto do Atacama, são um dos highlights destas terras áridas e dos lugares mais desejados por todos os viajantes que vagabundeiam por estas bandas.
Há muitas formas de chegar às lagoas que, por regra, se situam a mais de 4 mil metros de altitude: ou através de Uyuni, na Bolívia (normalmente através de tour que duram entre 1 e vários dias) ou através de San Pedro do Atacama (a porta de entrada no deserto com o mesmo nome).
Imaginar um lugar inóspito, seco, desértico, a milhares de metros de altitude, sem árvores, sem nada e de repente, do nada, aparecerem lagoas deslumbrantes, águas coloridas e flamingos cor de rosa em voos rasantes, não é nada fácil, mas existe tal lugar!
O altiplano é mesmo assim!
“Laguna Hedionda”
A Laguna Hedionda apareceu assim de repente, depois de uma curva mais apertada em que o Land Rover nem estremeceu. A brancura imensa e uma réstia de água límpida contrastavam com o castanhado do horizonte. Ao fundo, contudo erguia-se imponente o conjunto de montanhas que separa a Bolívia do Chile.



A Laguna Hedionda é uma lagoa alto-andina situada dentro da Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Abaroa, no sudoeste de Bolivia.
Não é difícil adivinhar donde lhe vem o nome, não é? O cheiro a ovo podre do gás sulfúrico que ela exala da lagoa entra-nos pelas narinas e parece que se agarra à roupa.



Com mais de 5 km de cumprimentos e a mais de 4mil metros de altitude, a lagoa tem uma cor branca devido ao elevado nível de minerais.
Enquanto pachorrentamente caminhávamos pelas margens da lagoa, formam-se alguns pequenos “furações” que na sua dança afastam para longe os flamingos que se refastelavam nas águas mais profundas.







Voltamos ao jipe, para uns minutos mais tarde, o branco dar lugar ao cor de rosa!
“Laguna Colorada”
Chegámos à Laguna Colorada já ao pôr do sol, por isso as águas já não estão tão vermelhas como costumam estar, dizem-nos. Mesmo assim, apanhamos milhares de flamingos, bem alegres, a comer à beira da lagoa. É uma imagem maravilhosa.



Passámos bem mais de uma hora vagueando à volta do lado, fotografando os flamingos, escutando o vento andino, ou, ficando ali, só a olhar!
De acordo com o Jimmy, o nosso cobiçado guia, a cor avermelhada da lagoa deve-se aos sedimentos depositados por uma espécie de alga. Contou-nos também que os flamingos ao se alimentarem nestas aguas vão também eles adquirindo um tom avermelhado, já que quando nascem são acinzentados (e não é que é mesmo verdade!).
E por falar em flamingos, pelas fotos logo se vê que eles abundam por aqui. Há Flamingos de James, flamingos andinos e flamingos chilenos.



A cor da lagoa parece mais cor de tijolo do que vermelho vivo, vivo como o vermelho de muitas fotos que circulam pela net. A luz de final de dia também não ajuda nada! Há um pouco de desilusão no nosso semblante.
A lagoa contém algumas ilhas de sal bórax, cuja cor branca contrasta com a cor avermelhada das águas. A Laguna Colorada é uma das Zonas Húmidas de Importância Internacional da Convenção de Ramsar.



“Laguna Verde”
O vulcão Licancabur guarda a lagoa desde tempos remotos. Não são os turistas que por aqui vagabundeiam que vão despertar desta letargia, mas atenção este gigante está apenas adormecido!
Paramos o jipe cá no topo e, de chofre, saímos todos boquiabertos. É imenso! Saímos, ajeitando os casacos, gorros e luvas. Este é o terceiro dia do tour e o mais frio! Começámos a manhã (ou melhor, a madrugada) com 14 graus abaixo zero mas agora a temperatura já subiu um pouco.
Quando chegámos à Laguna Verde sabíamos que a viagem pelos desertos de sal e lagoas do altiplano boliviano estava a terminar. Sabíamos que dentro de alguns kms estaríamos a cruzar a fronteira para o Chile. Do outro lado esperar-nos-ia um dos desertos mais secos do planeta e as suas paisagens que mais parecem tiradas de um qualquer planeta distante.
Mas voltamos à lagoa. A La Laguna Verde é uma lagoa de agua salgada, situada no altiplano andino. Devido à elevada concentração de minerais como o magnésio, carbonato de cálcio e arsénico as águas adquirem tons esverdeados, cuja matiz varia ao longo do dia.
Ficámos por ali, a saborear o vento gelado que nos esbofeteia a face. O Jimmy já nos espera no Jipe. Está na hora de preparar os passaportes.
As três lagoas que visitámos podem ser vistas e saboreadas integradas nos tours clássicos de 3 ou mais dias que percorrem o altiplano boliviano e o Salar de Uyuni. Para saberem mais sobre o tour, roteiros e dicas podem ver o nosso post.
A equipa 🙂
Por fim, a nossos parceiros de viagem. O incansável guia Jimmy e o todo terreno que se portou como gente grande! O Sérgio (brasileiro) e uma família alemã (filha e pais).


