Se fosse altura para me confessar e um espelho reflectisse não só a minha imagem mas a minha alma, com certeza dir-me-ia que ela tremia. Aquele tremor que não se nota, não um ranger de dentes, mas os sinais de quando sentes aqueles arrepios frios que tentas em vão controlar. De tantas vezes que me assaltam que a estratégia tem sido a de os deixar fluir até que se transformem em gostas húmidas de suor que a pouco-e-pouco te ensopam, ainda que levemente, a roupa.
Ponho-me a imaginar quantos dias não seriam necessários para cruzar os mares nas caravelas quinhentistas e atracar no território de Á-Ma. Aquelas viagens malditas com o porão atafulhado de ratos e escorbuto.
Agora os “boingues” e “airbuses” modernos fazem-no em poucas horas à custa do “jet-lag” e de muito CO2.
Fiz as contas antes de sair de casa e o resultado foi assustador: 2,2 toneladas de CO2 vão custar ao planeta atravessar 2 continente, 12 mil km e 8 fusos horários. Números assim deixam qualquer um deprimido e envergonhado perante a “pachamama”, só me resta o offset.
Uma manha chuvosa, aquela que se despediu de mim em Lisboa. Lisboa tem mais encanto na hora da despedida, não… isso é Coimbra. A cidade não sentia que eu partia, mas as suas lágrimas aprisionei-as numa tentativa egoísta de que chorasse só por mim.
Interior do Boing 747-400, com capacidade para 400 pessoas.
Se há imagens que se nos gravam na retina e nem à força conseguimos arrancá-las, esta viagem trouxe-me duas: sobrevoar a majestosa Londres pintada de mil e uma cores que só a corrente alterna consegue e acordar com a visão mágica dos montes Urais nevados e esguios, mas com ondas que lembram os mares calmos da costa mediterrânica.
Montes Urais – a 10 km de altitude
Entre um fechar de olhos, um solavanco e um chá quente dou por mim no delta do Rio Pérola. Consegui vislumbrar ao fundo um corrupio de gigantes barcos, sinal do desenvolvimento super-sónico e atroz da China Moderna. Deste ensopado de pensamentos que ia tecendo à velocidade de uma agulha que dá forma a um emaranhado de lã, fui despertado pelo capitão que anunciava os preparativos para a aproximação a terra – Hong Kong.
O 747-400 deslizou lentamente afunilando na pista e descansando da sua “grande marcha”, no entanto a minha hora de descansar ainda não tinha chegado. Esperava-me ainda o imperceptível, mas presente, enjoo do Ferry que me iria plantar na terra que teria a gentileza (ou obrigação) de me abrigar nos próximos meses.
Hong Kong International Airport
Resumindo: 2 horas de comboio, 15 horas de avião, 1 hora de ferry, 12 mil km e 2,2 toneladas de co2: números para recordar e reflectir.
Ngo oi ney
sou a tua leitora assídua…
LIndas fotos
Estou solidária 😀
Agora aguenta-te com o Jetlag… 😡