Era uma manhã típica de Março, daquelas que anunciam a primavera. De tão iguais a tantas outras, a história haveria de esquecer esta manhã, não fossem os acontecimentos que acabaram por dar origem a uma das mais importantes e míticas revoluções da História Nacional – a Revolução da Maria da Fonte.
Os meus trilhos hoje levam-me a Póvoa de Lanhoso. As terras do Lanhoso são conhecidas pelo seu vinho verde, pelas suas encostas íngremes mas verdejantes perdidas em pleno pulmão do minho, pela sua minuciosa filigrana, mas acima de tudo por ser a terra da Maria da Forte…
Apesar da convenção de Évora-Monte de 26 de Maio de 1934 ter terminado oficialmente com a Guerra Civil que assolou Portugal e que opunha Liberais aos miguelistas, vivíamos uma época conturbada e os portugueses divididos. O governo de Costa Cabral, um dos mais importantes membros do movimento constitucional, teimava em levar a cabo reformas e obras de vulto no sentido de modernizar o estado. Todavia, fazendo jus à verdadeira natureza do sentido lusitano, as reformas foram muito contestadas principalmente pelos interesses instalados e pelo povo muitas vezes incitado pela igreja.
O auge desta contestação ao governo de Costa Cabra e aos liberais foi a promulgação em 28 de Setembro de 1844 do Decreto que proibia o enterramento dos defuntos nas igrejas, tendo sido invocadas razões de saúde pública. O povo retrógrado e avesso à mudança influenciado por um clero ultra-conservador e anti-liberal ignorou o decreto e desafiou o governo.
Na primavera de 1946, Portugal via surgir uma revolução que haveria de pôr na história uma mulher de nome Maria da Fonte, haveria de eternizar o jeito “robinhodesco” do Zé dos Telhados e “pôr as terras de Lanhoso no mapa”. Esta sublevação popular com início no norte propagou-se depois ao resto do país e levaria à substituição do governo de Costa Cabral.
A revolução foi espoletada pelo enterramento de Custódia Teresa uma idosa de Fonte Arcada em Lanhoso. Ainda que proibido por decreto, a população (sobretudo mulheres) desta aldeia decidiu enterrar a idosa no mosteiro da aldeia, ao total arrepio das normas legais, tendo o delegado de saúde sido espancado pelas gentes da aldeia. Perante tais factos as autoridades decidiram prender os cabecilhas da revolta, 4 mulheres. Todavia, quando a 27 de Março as detidas iam ser levadas ao juiz, a população reuniu-se, marchou até à vila e arrombaram a machado as portas da cadeia. À frete da marcha seguiam as mulheres e entre elas uma que distintamente vestia um capuz vermelho. Quando as autoridades tentaram identificar os revoltosos e porque eles se recusavam a identificar-se a mulher de capuz vermelho passou a figurar apenas com Maria da Fonte Arcada, ou Maria da Fonte.
A entrada da vila presenteia-nos com uma bela rotunda adornada com contas gigantes de Viana e a recordar aos visitantes que está prestes a entrar numa das mais importantes rotas da filigrana.
Sobranceiro à vila ergue-se o monte do pilar encimado por um castelo de pedra dura que os anos ainda não tiveram força para quebrar.
Aprovar as antiquíssimas raízes de Póvoa os arqueólogos trouxeram à vida um castro da idade do ferro (I milénio A.C.) descoberto já no séc. XX aquando da abertura da estrada que liga ao Castelo. As casas de pedra granítica crua e despida em formato circular e telhados de colmo são testemunhas de um tempo ido.
Entretenha-se, desfrute, perca-se… pois só assim será capaz de se encontrar num dos mais belos lugares de Portugal.