O vale do Colca está localizado a norte de Arequipa, já em plena cordilheira. É um vale colorido, com a agricultura a fazer-se em socalcos que datam da altura pré-inca. Grande parte das cidades que se estendem pelo vale foram fundadas pelos colonizadores espanhóis. Atualmente habitam este vale os descendentes das culturas collagua e cabana, que mantém suas tradições ancestrais e continuam a cultivar os terraços agrícolas construídos pelas civilizações antigas.
Lemos que é o terceiro destino mais visitado do Peru, com cerca de 120 mil visitantes por ano.
A atração principal deste vale é o seu profundo desfiladeiro (canhão) formado pelo Rio Colca. Com uma profundidade de 4160 metros, este desfiladeiro é mais de duas vezes mais profundo que o Grand Canyon, nos Estados Unidos.
Embora a contragosto decidimos sair de Arequipa e realizar o percurso do canhão de Colca em parte de autocarro e não o trekking de dois dias, com destino final Puno, no Lago Titicaca. Assim ganhámos tempo, mas com a certeza de que permemos muita coisa. Mas é assim a viagem, tudo tem um preço.
1.º dia no desfiladeiro de Colca
Quando chegámos a Arequipa, no dia anterior, ainda era escuro e vínhamos estatelados nas camas confortáveis do autocarro da Cruz del Sur que nem demos conta da paisagem lunar que envolve esta cidade de mais de um milhão de pessoas. Agora, que subiamos as primeiras montanhas da cordilheira, Arequipa era apenas um amontoado de casa escuras envoltas num deserto castanho, árido e agreste.
Mas a pouco e pouco a paisagem começa a mudar. Subimos cada vez mais e aparece a primeira vegetação.
Chegámos em ponto a Patahuasi, para beber o mate de coca e muña e observar as formações geológicas, brancas e inertes ali ao lado. Gigantescos cones irrompem do solo e projectam-se no céu azulado. É a floresta de pedra.



Chegamos a 4040m de altitude a aparecem as vicuñas, com o vulcão Misti como pano de fundo.
As vicunhas e alpacas acompanham a estrada e pudemos parar e quase acariciar estes primos dos camelos que vivem no frio das montanhas.
As vicuñas à espreita.
Em Pampas Cañahuas aparecem alpacas às dezenas. Lindas, não são?



Aproximadamente, 500 mil famílias de camponeses depende, da actividade com camelídeos, principalmente a alpaca. A fibra que se “extrai” da lã de alpaca é uma das principais fontes de riqueza e identidade no Peru. As alpacas são originárias destas serranias andinas, onde, desde há milhares de anos tem uma relação estreita com os povos destas altitudes.
Enquanto olhamos para o altímetro do telemóvel e vemos a altitude a subir em flecha, fazemos mais uma curta paragem. A vista é bonita, mas era necessário a paragem? Claro que sim! A estrada atravessa a cratera desabada de um vulcão.
A paisagem é magnifica e não fosse o gélido vento, podíamos ficar horas a apreciar as montanhas em volta.
A 5 mil metros de altitude, as vendedoras de artesanato do “Mirador de Los Andes”, fazem os possíveis para captar a atenção dos turistas e viajantes que por aqui param. Estas mulheres andinas estão completamente adaptadas à falta de oxigénio. Muitas delas, vêm pela manhã das aldeias mais próximas, que podem distar a kms daqui, para vender os seus artigos.
Mas Chivay, uma pequena vila mais à frente já nos espera. Infelizmente aqui tivemos um pequeno desarranjo com a nossa guia. Apesar de termos optado por não contratar as refeições no tour, a guia queria à viva força que fôssemos todos ao restaurante buffet da sua escolha. Esta atitude dos guias muitas vezes cai mal aos turistas/mochileiros que sabem bem que se pode almoçar a preços bem mais económicos alguns metros à frente e faz-nos pensar se em causa não estará apenas mais uma comissão extra que a guia quer receber.
No final, por estas atitude pode a avaliação das empresas ser revista em baixa, tal qual o rating da dívida pública portuguesa.



Mas lá fomos nós à tasca mais próxima e para saber que durante a tarde não havia planos para longe que o centro da vila que a guia nos queria fazer parecer que ficava a léguas, era já ali ao virar da esquina.
Em Chivay, optámos por ir apreciar as sua termas e seguindo os conselhos da que lemos optámos pela piscina nº 5. A água escaldava e contrastava com o frio de fora. A Sandra ia tendo uma quebra de tensão, tal a temperatura que o corpo alcança. Mas torna-se agradável a experiência e não fosse o medo de uma constipação tínhamos aproveitado e percorrido o resto das piscinas.
Pouco mais há a fazer nestas vila e restávamos ir para o quarto, com o aquecedor extra que a empresa de viagens no reservou e que revelou ser um conforto maravilhoso, pois quando a noite cai, o frio aperta e os quatros são gelados. Mas aqui tudo se paga à parte e muitas vezes estas pequena comodidades têm custos extra. É importa, e em jeito de dica, que não escolham o alojamento mais barato, o frio pode tornar a noite muito desconfortável, acreditem.



2.º dia no desfiladeiro de Colca
Hoje é dia de percorrermos a parte oeste do Rio Colca e do seu canhão. Ao longo do percurso acompanham-nos as pequenas aldeias que se entendem ao longo do vale, mas margens do Colca. Os povos milenares que aqui habitam vivem essencialmente da agricultura, da criação de alpacas e, agora claro, do turismo.



A paisagem é toda ela de tons acastanhados, não estivéssemos nós na época seca. O caminho que percorre o vale está agora seco e, apesar de estar bastante frio, o pó esvoaça ao tons dos autocarros e jipes que vão passando.
Os povos pré-incas criaram gigantescos terraços onde cultivavam as mais variadas espécies de alimentos, com destaque para a maca, a quinoa e a batata.
Os terraços que se estendem serra acima fazem-nos lembrar o Douro, verdejante, é verdade, mas também um criação dividida em esforço entre homem e natureza. É impossível não ficar impressionado.
A primeira aldeia onde paramos é Yanque. Está um frio de rachar, afinal pouco passa das 6:30 da manhã. Com a alvorada juntam-se na pequena praça da vila as meninas que passam o dia em danças, tentando cativar os turistas e, com sorte, receber alguma moeda.
Há dezenas de igrejas, da época das conquistas, espalhadas pelo vale. Sinais dos tempos aureos, dizem por lá. Quase todas as pequenas aldeias têm uma.



A mais bonita é a de Maca, sem dúvida. As igrejas são bastante sui generis. Ao mesmo tempo que congregam o melhor da correntes arquitectónicas quinhentistas europeias, incorporam muitos dos aspectos decorativos das comunidades andinas.
O resultado foi este interessante e bonito estilo barroco mestiço.
Além dos normais vendedores de artesanato, há cores, muitas cores e alpacas.
A pouco e pouco o canhão começa a aparecer com cada vez maior profundidade, fazendo com que o canhão do Rio Sil, não passe de um passeio de meninos 🙂
O desfiladeiro, formado pelo Rio Colca, tem uma profundidade de 4160 metros, sendo duas vezes mais profundo que o Grand Canyon, nos Estados Unidos. Além do mais, é o segundo desfiladeiro mais profundo do mundo. É verdade, há um mais profundo, na China.
O caminho continua vale adentro, com o desfiladeiro cada vez mais profundo e mais medonho. Vamos olhando pela janela. Paramos de vez em quando para apreciarmos a paisagem.
Enquanto tomávamos o frugal pequeno almoço, sabíamos que o ponto alto alto do dia seria a possibilidade, ou pelo menos a expectativa, de observarmos os condores madrugadores a sobrevoarem o desfiladeiro. Só podemos fazer figas e acreditar na nossa boa sorte…



O tempo passava, as pessoas juntavam-se, mas o condor não aprecia. Havia mil e uma teoria para que isso não acontecesse. Cada um com a sua.
Aprendemos mais sobre estas aves enigmáticas. Que são necrófagos, já sabíamos. Agora, que se alimentam em círculos, como que dançando à volta do cadáver, começando por se deliciar com as olhos da vitimas, é de outro nível. O condor é a maior ave voadora do mundo e na sua envergadura de assas cabe um mundo de misticismos andino. Acasala para a vida e se a fêmea morre, acredita-se que o macho se suicida.



Havíamos já perdido a esperança e as baterias da máquina, quando num golpe de sorte conseguimos avistar um par de condores sobrevoando a nossa cabeça, permitindo que os disparos dos turistas invadissem o ar captando os momentos únicos que a natureza nos oferece.
Para nós esta parte da viagens aproximava-se do fim e em breve estaríamos a bordo de um autocarro rumo a Puno, cidade de que vos falaremos no próximo post. Mas a verdade é que pelo caminho passámos por outros locais incríveis, apesar da chuva miudinha que fomos apanhando. Até já.
Oi!
Adorei comentários
Vou para lima na próxima semana e estamos a finalizar programações… Sabem me dizer qual a vencia em que fizeram este tour (e o preço já agora…)