Começo o dia colado ao vidro do autocarro. A paisagem parece a mesma, há centenas de km, mas a cada metro descubro algo diferente. São patos banhando-se no rio, são pequenos lagos que deixam brotar das suas entranhas esguios troncos de flor-de-lotus, adocicados de cor-de-rosa. As folhas largas albergam ainda as últimas gotas do orvalho nocturno, onde o espectro solar se separa harmoniosamente em incontáveis cores.
Cresci num país onde irrompem pelos montes as oliveiras e os castanheiros, as figueiras e as cerejeiras. Sempre sonhei, desde menino, com coqueiros, frutas exóticas, pessoas de pele escura e crianças descalças na rua. Hoje, na Ásia, sinto os mercados emprenhados de cheiros e sabores difíceis de identificar – Estou feliz, não sinto fala dos rigores invernais da minha Beira.
Paro na cidade imperial de Hué. Os pêlos das minhas pernas, ou são muito bonitos (hipótese que descarto) ou algo completamente estranho para a filha do responsável do “comedor” onde estou. Tento explicar-lhe que quando me agarra os pêlos causa dor. Faço o mesmo no seu cabelo, em vão… prefere aguentar a dor a desistir das minhas pernas.
Fotografo a cidade imperial, tenho gotas de suor por todo o corpo. Preciso de tempo mais fresco e começo a ficar cansado do barulho ensurdecedor das motos.
Estou a atravessar aquela que foi uma das zonas mais militarizadas do planeta – o paralelo 17. Essa zona, que separava o norte comunista do sul liberal, foi palco das mais sangrentas batalhas da Guerra Americana (ou Guerra do Vietname, como costumamos apelidá-la).
Votos de um ano salutar repleto de tudo o mais maravilhoso que este mundo tem para nos oferecer. Entrei na tua página e percorri serenamente os “teus trilhos”, saudosamente me passou um calafrio nostalgico que me percorreu a “espinha”. De perto sigo os teus horizontes e prevejo a alegria frutuosa da liberdade que te permite vaguear, nao entanto, pressinto a Beira como um canto por nós partilhado que ainda nos identifica e que sobretudo nos traz a lembrança de uma amizade de um passado eterno. Parabéns pelas desventuras… Carpe Diem