Podes sentar alunos numa sala ensinar-lhe onde é o Lago Titicaca. Podes dizer-lhes que é considerado o lago navegável mais alto do mundo e que está situado a 3.821 metros acima do nível do mar. Podes dizer-lhes que o lago se situa no alto da cordilheira dos Andes, entre o Peru e a Bolívia e é o 19º maior do mundo.
Podes dizer-lhe tudo isso, mas não lhe podes mostrar o frio do azul que fulmina, o sorriso das pessoas que habitam as suas ilhas, o sentimento de pisar estes lugares sagrados.
Durante vários dias na nossa viagem pelos caminhos dos Incas, o Lago Titicaca e o seu azul fulminante fez-nos companhia. Primeiro, do lado peruano em Puno e nas Ilhas flutuantes dos Uros, depois já na Bolívia, em Copacabana e na Isla del Sol.
Chegámos ao lago vindos do Desfiladeiro de Colca, estivemos em Puno, atravessámos a fronteira em Kasani e parámos uns dias em Copacabana.
A fronteira de Kasani parece uma feira, aqui tudo se vende e compra. Não há cancelas e o controlo é residual. Carimba-se o passaporte no lado peruano, caminham-se 300 metros e trata-se da entrada na Bolívia. Simples. Contudo não leia o Lonely Planet, há histórias para todos os gostos na passagem desta fronteira. Connosco, correu tudo às mil maravilhas, com um agradável “binevenidos a Bolivia”.
Mas também se chega facilmente ao lago vindos de La Paz, a principal cidade da Bolívia e que dista a cerca de 3 horas, com uma extraordinária travessia de um dos canais do lago. Atravessámos o lago de Copacabana em direção à Bolívia, mas deviam ver o nosso espanto quanto chegámos a um braço do lago e vimos o nosso autocarro a atravessar o lago desta forma:



Copacabana é, além de Puno, umas das principais cidades nas margens do lago. No lado boliviano é um excelente local de paragem para quem gosta de relaxar e para quem quer visitar a Isla del Sol e Isla de la Luna. Não se surpreenda se encontrar por cá comida estranha, muita coisa vegetariana e muitos, muitos “hippies”. Afinal, há que diga que TIticaca é o segundo chakra da terra.
Neste “mar” gigantesco existem diversas praias e mais de 40 ilhas. As ilhas mais conhecidas, do lado peruano, são as ilhas de Amanti, Taquile e a ilhas flutuantes dos Uros. Do lado Boliviano, sem dúvida a ilha mais conhecida é Isla del Sol, onde também andámos na nossa viagem pela América do Sul.



O Lago Titicaca é muito importante para o povo dos dois países, foi aqui que nasceu a civilização Inca. Por este motivo, quer nas ilhas do lago, quer nas suas margens existem diversos sítios arqueológicos, lugares com uma enorme importância para a história da Humanidade.
O lago Titicaca é abastecido pela água das chuvas e do degelo da neve que vem das montanhas do altiplano, da cordilheira. Para os povos indígenas dos dois países, as montanhas também são consideradas sagradas.



Bem, mas de certeza que muito de vocês já se perguntaram, mas afinal o que significa “Titicaca”? Nós fizemos essa pergunta dezenas de vezes, ouvimos falar que tinha a forma de um puma e de um coelho, ouvimos muitas histórias. Mas, diz-nos, na verdade, o que nos diz a lenda é:
Conta-se que há muito tempo atrás a região de Titicaca era um vale bastante fértil, habitado por homens que viviam felizes e tranquilos. Nada lhes faltava. Nesta terra não se conhecia nem a morte, nem o ódio, nem a ambição. Os Apus, os deuses das montanhas, protegiam a todos. Contudo, os Apus impuseram apenas uma proibição: nada, nem ninguém deveria subir as montanhas, onde estava acesso o “fogo sagrado”.
Durante muito tempo não passava pela cabeça dos homens desrespeitar esta regra simples. Mas o demónio, espírito maligno, condenado a viver na repleta escuridão, não suportava ver a felicidade e tranquilidade com as quais os homens viviam no vale. Coberto de inveja, começou a semear a discórdia, pedindo-lhes que provassem sua coragem e fossem buscar o “fogo sagrado” nas montanhas.
Então, num belo dia pela manhã, os homens dirigiram-se às montanhas, mas no meio do caminho foram surpreendidos pelos Apus. Os homens haviam desobedecido à única regra e deveriam ser exterminados. Milhares de pumas saíram das cavernas e devoraram os homens. Vendo isto, Inti, o deus do sol, começou a chorar. As suas lágrimas eram tão abundantes que em quarenta dias inundou todo o vale. Apenas um homem e uma mulher conseguiram salvar, sobre uma barca de junco.
Quando o sol brilhou novamente, o homem e a mulher não conseguiam acreditar no que seus olhos viam: abaixo do céu azul estava um lago imenso e límpido. No meio de suas águas flutuavam os pumas, afogados e transformados em estátuas de pedra.
Chamaram então o lago Titicaca de “o lago dos pumas de pedra”.
Mas agora, vejam lá se o lago visto de cima não parece ter a forma de uma puma e de um coelho?